Hoje trago a terceira parte da história "Replay".
Replay contará a história de um garoto que subitamente descobre que tem a habilidade de voltar no tempo quando ele morre ou quando um certo objetivo não é alcançado no dia, como um "replay" de jogo. A princípio ele pensa que é apenas um sonho, ou um Dèjá Vu, mas logo descobre que é a realidade então ele começa a lutar para escapar desse loop infinito de morte e falhas nos objetivos.
Boa leitura!
REPLAY –
Parte 3
Ela colocou o estilete apontado para nós e começou a
andar lentamente, os passos dela ecoavam pelo local, podíamos ouvir sua
respiração rápida e entrecortada, parecia que ela estava agindo por impulso e
então tudo ficou em silêncio, o tempo parou e a próxima coisa que eu pude ver
foi ela correndo em direção a Anzu, eu pulando na frente e uma mancha de sangue
no meu estomago.
Acordei gritando, desesperado, até cai da cadeira,
todos na sala de aula olharam para mim, surpresos com minha reação, já Masaomi,
que estava para me acordar, deu um salto digno de salto com vara. Olhei
rapidamente para minha barriga em busca de algum ferimento, mas não havia nada
então olhei para Hikari, que estava do outro lado da sala arrumando seu
material, ela aparentava estar normal, o que me deixou confuso.
- O que houve? Você está bem? Aconteceu algo?
- N-não, nada. – Dei uma última olhada para Hikari,
desconfiado e então voltei a sorrir e me virei para Masaomi. – Vamos embora?
- Agora está falando a minha língua.
Do outro lado da sala, uma voz conhecida entrou na
conversa.
- Vocês estão indo para casa? – Hikari perguntou
enquanto se aproximava junto com sua amiga.
Meu amigo sorriu e respondeu prontamente. – Estamos
sim, quer ir conosco?
- Não! – Gritei no reflexo, Masaomi me olhou surpreso
e Hikari, assustada.
- Não? O que houve? Você está realmente bem?
- Ah, eu... eu... estou bem, desculpa. É que eu
lembrei de algo. – Olhei para o chão, surpreso com minha própria reação.
- Certo. Então tudo bem se ela voltar conosco, né?
- Hã? Ah, sim, sem problemas.
- Mano, o que houve contigo? Teve um pesadelo que te
assustou tanto?
- Não, não, não. Vamos embora, só quero ir para casa.
- Ok então. Você vem conosco, Anzu?
- Posso? – Perguntou a garota, tímida.
- Claro que pode, quanto mais gente melhor
Em pouco tempo estávamos andando pela
rua, rindo das minhas reações as piadas ruins de Masaomi. Estávamos para
atravessar um cruzamento quando meu amigo pensou em algo.
- Ei, vamos passar no fliperama? – Sugeriu o garoto.
- Não, eu preciso ir para casa. – Respondi na lata.
- Mas já? O que você irá fazer em casa?
- Bem, er... estudar?
Masaomi me olhou desconfiado, me analisou e finalmente
cedeu.
- Ok, então vamos só nós três mesmo.
- Ah, desculpa. Me lembrei que minha mãe pediu para eu
chegar cedo em casa. – Comentou Hikari.
- É? Não creio. Poxa. – Masaomi colocou as mãos na
cintura e olhou em volta. – Até perdi a vontade de ir.
- Como assim “perdeu a vontade”? – Olhei torto para
meu amigo.
- É, sozinho não tem graça.
- Sozinho? A Anzu ia contigo, não ia?
- Er, eu tenho cursinho agora. – Comentou a garota.
- Completamente rejeitado. – Sorri para caçoar dele.
- Calado.
- Bem, vou indo, até. – Me virei e comecei a
atravessar a rua.
- Ah, você vai para esse lado? – Perguntou Hikari, um
pouco nervosa.
- Hã? Ah, sim, eu moro um pouco mais adiante.
- Então parece que iremos continuar juntos um pouco
mais. – Sorriu envergonhada.
- Mas sua casa não fica para o outro la... – Anzu
parou de falar e levou a mão à perna, massageando-a.
- O que foi, Anzu? – Então reparei ela massageando a
perna. – O que aconteceu com sua perna? Está machucada?
- N-nada não. Está tudo bem. He he.
- Então por que você está massageando a perna?
- Ah, isso? É
que eu ouvi falar eu massagear as pernas faz bem para a circulação sanguínea e
evita estrias e tal.
- Entendo. – Eu e Masaomi respondemos em uníssono,
desconfiados.
- Vamos, então? – Perguntou Hikari, já puxando meu
braço.
- V-vamos, até amanhã pessoal.
- Falou. – A voz de Masaomi soou triste, o que deixou
um pesar no meu coração, mas eu realmente queria evitar aquele... sonho?
Acabei andando com a Hikari segurando meu braço e ela
parecia bem feliz. Passamos em frente a uma lanchonete e ela parou olhando para
o interior.
- Ei, não está com fome?
Olhei para ela e então para dentro da lanchonete e vi
a coisa mais bela do mundo, um hambúrguer triplo com queijo derretendo, dava
para perceber pedaços de bacon no lanche, ao lado havia uma porção imensa de
batata frita com cheddar e mais bacon, na hora meu estomago roncou, quando
olhei para a garota, ela sorria.
- Vamos comer algo antes de irmos para casa. – Ela me
puxava para dentro da lanchonete com um sorriso no rosto.
Nesse momento apenas obedeci minha barriga, então
entramos na lanchonete e pedimos dois lanches grandes com batata frita extragrande
e nos sentamos no fundo onde era menos movimentado, sugestão dela.
Comemos nossos lanches em silêncio, mas era pelo fato
de estarmos com vergonha, após o terminarmos de comer ficamos um tempo olhando
ao redor, eu pelo menos fiquei.
Passei um tempo olhando para ela, quando ela percebeu
começou a ficar envergonhada e sem jeito.
- O que foi?
- O que foi?
- Você está gostando de alguém?
- Quem? Eu? Não, não, não, ninguém no momento. – Falei
sem jeito.
- Hum.
Percebi que ela gostou da resposta, pois surgiu um sorriso de
orelha a orelha e as maçãs de seu rosto ficaram rosadas, uma graça, se
não fosse pelo “sonho” em que ela é uma psicopata.
- Hikari, você mataria alguém por amor?
- Como? – Perguntou, surpresa.
- Perguntei se você mataria por amor?
- Ah. Sim.
Na hora que ouvi a resposta, olhei para seus olhos e
me assustei a ponto de minha espinha ficar gelada, seus olhos estavam tão
negros e sem vida que pareciam me engolir, seu sorriso parecia o de um sádico e
sua voz soou fria e cortante.
- Hum, e-entendo. – Desviei o olhar.
- Por que a pergunta?
- Po-por nada não.
- Vai, me conta. Fiquei curiosa. Foi uma pergunta
estranha do nada, tem que ter um motivo. – Sua voz começou a voltar ao normal,
animada.
- Eu estava apenas curioso, nada demais.
- Só curioso? Certeza?
- Sim.
- Sei... e você? Mataria por amor?
- Que? Eu? Não sei, acho improvável. Sério que você
mataria por amor?
- Sim, se a situação pedisse. Por exemplo: Se você
combinar com sua amiga que irá disputar o amor de um certo garoto de forma honesta
e não se aproveitar de nenhuma situação em que fiquem sozinhos, mas ela vai e
se aproveita de uma situação assim, nesse caso eu a mataria sem hesitar.
Seu sorriso me deu calafrios, um sorriso sem emoção,
irônico, como se sentisse prazer em matar.
Engoli em seco, como ela sabe dos meus sonhos? Não era
sonho?
- Que situação mais específica. Da onde você tirou
isso?
Ela apenas sorriu, então levou uma mão ao queixo e
então olhou para o além, pensativa até que se decidiu. – Ok, me decidi. – Quando
falou, seus olhos se fixaram nos meus, olhos tão negros que pareciam que me
sugariam para dentro deles, como buraco negro. – Eu te amo, vamos namorar? –
Então seus olhos voltaram ao normal.
- Eim? Como? Digo... que?
- Eu disse que te amo e quero ser sua namorada. Tudo
bem para você?
- Assim? Do nada?
- Não é “do nada”, gosto de você desde a primeira vez
que nos vimos, muito mais tempo que a Anzu.
- Espera, a Anzu gosta de mim? – Soltei um sorriso
besta, mas não foi uma boa ideia.
- Por que você está com esse sorrisinho no rosto? – A expressão
de Hikari ficou séria e ameaçadora.
- Nada não. He he. – Ela realmente me dá medo.
A garota ficou me encarando, séria.
- Tenho uma coisa para te perguntar.
- O que?
- Entre eu e a Sthefany, quem você prefere?
- Que tipo de pergunta é essa?
- O tipo de pergunta que se faz quando se quer
descobrir o tipo de garota que a outra pessoa gosta.
- É um pouco difícil responder a essa pergunta.
Ela sorri.
- É nada, você acabou de me responder. Você prefere garotas como a Anzu, certo?
- É nada, você acabou de me responder. Você prefere garotas como a Anzu, certo?
- Como eu acabei de responder se eu não disse nada?
- Por causa da sua reação quando respondeu. Se você
gostasse de mim teria evitado a pergunta.
Ela lê mentes? Que diabos.
- Bem, já que você gosta mais da Anzu então eu não
tenho outra opção.
Dito isso ela se levantou, se inclinou na minha
direção e me beijou. Seus lábios eram macios e quentes, um desejo que esse
momento não acabasse surgiu em minha mente, aos poucos eu estava começando a
ficar viciado em seus lábios, quanto mais tempo nossos lábios se tocassem, mais
e mais eu os desejava.
Quando ela se afastou, meu corpo se mexeu
instintivamente para frente, acompanhando seu movimento, mas então ele colocou
o dedo indicador na minha boca, um gesto para me fazer parar. O gesto foi o suficiente
para quebrar o clima e então acordei dessa hipnose.
- O-o que foi isso?
- Um beijo, horas.
Levei minha mão a boca, passei meus dedos nos lábios
para verificar se aquilo foi real, senti meus dedos então foi real. Eu
realmente beijei ela. Meu cérebro ficou travado e logo entrou no modo de emergência,
me levantei abruptamente enquanto olhava para a mesa.
- Vou embora.
- Mas já? – Ela fez uma expressão triste e me olhou
com um olhar pidão. – Não podemos ficar mais um pouco?
- Não, preciso estudar.
Ela me olhou fixamente, por um momento pensei que iria
me beijar novamente, mas então ela sorriu.
- Ok.
Acenei com a cabeça, saímos da lanchonete e logo nos
separamos. Enquanto eu andava em direção a minha casa minha mente revivia o
momento do beijo, meu corpo relembrava a sensação dos lábios dela tocando os
meus, eu estava completamente no automático. Quando finalmente coloquei a mão
na maçaneta para abrir o portão de casa, alguém me abordou pelas costas.
- Se eu não posso te ter, então ninguém pode. Morra
por favor.
A voz soou fria e determinada, senti algo me
perfurando nas costas, alguma coisa começou a fazer muita pressão onde fui
perfurado, meu corpo inteiro começou a ceder, minhas forças se esvaíram pouco a
pouco, minhas pernas ficaram bambas, minha visão começou a ficar turva e em um
movimento desesperado me virei e olhei para meu assassino, era a Anzu.
- Por... que? – Consegui perguntar.
Minha visão escureceu e o mundo ficou em silêncio...
abri os olhos assustado e me vi na lanchonete com a Hikari na minha frente,
sorrindo.
- Você está gostando de alguém? – Perguntou ela.
- É? – Olhei para os lados como se procurasse algo ou
alguém.
- O que foi? Está procurando quem?
- A Anzu não está por aqui, está?
- Anz... por que você está perguntando dela? – Ela fez
uma pausa e algo em sua mente fez sentido. – Você gosta dela, não é?
- Não é nada disso. Deixa pra lá, vou para casa. – Me levantei
e sai da lanchonete, deixando Hikari sozinha.
- Es-espera! – Gritou ela para tentar me impedir.
O pedido de Hikari morreu enquanto eu me afastava e
saia da lanchonete. Fui para casa a passos largos e apressados, cheguei em casa
e nada me aconteceu, por enquanto. Tomei um banho quente para relaxar e logo
fui me deitar, repassei tudo que aconteceu no dia para ver se eu não estava
ficando louco e quanto mais eu pensava nisso, mais eu achava que estava louco.
Meu celular toca algumas vezes, era Hikari me ligando,
mas eu apenas deixo tocando então finalmente o cansaço começou a vencer e pouco
a pouco meus olhos foram se fechando até que finalmente caio no sono.
Acordo então com o som do despertador, mas não me
levanto da cama, ainda me sentia exausto do dia anterior, não fisicamente, mas psicologicamente.
O cheiro de fritura entrou pela porta entreaberta e começou a me atiçar para
fora da cama, me levantei lentamente e olhei para o relógio, eram oito horas,
novamente eu estava atrasado.
Me troquei correndo, antes de sair do quarto olhei
para o calendário e então percebi algo estranho, o dia não havia mudado. Será
que tudo não passou de um sonho?
Continua.
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