A história de hoje conta sobre um garoto e uma inesperada confissão.
Boa leitura!
INESPERADO
Chegou o dia, o dia que eu mais
temia... o dia da entrega da nota da prova!
Como de costume, recebemos as notas
logo no fim das aulas e para variar, minha nota foi uma beleza. Quer saber
minha nota? Oras, foi 15 de 100.
Após ver minha nota, deixei minha
cabeça cair em cima da mesa, como se eu tivesse morrido e simplesmente deitado
a cabeça na mesa.
- Você está bem? – Uma voz feminina
perguntou ao meu lado.
Só consegui grunhir de tão decepcionado
que eu estava comigo mesmo.
Um riso leve despertou minha
curiosidade, virei o rosto para ver a garota que falava e me surpreendi. Rika, uma
das garotas mais bonitas da escola estava do lado de minha mesa, sorrindo e
falando comigo.
Me sentei de forma apropriada na hora,
mas meu corpo pareceu travar e qualquer movimento que eu fazia parecia um robô
enferrujado.
- Ah, sim, estou bem, obrigado por
perguntar.
Bati minha cabeça na mesa quando me
curvei para cumprimentar, ela então começou a rir e a pedir desculpas... tão
linda.
- Desculpa, é que sua reação foi
engraçada. – Levantei minha cabeça e olhei para ela, envergonhado. – Como você
foi nas provas?
E novamente minhas juntas pareciam
enferrujados, virei minha cabeça para o outro lado com uma expressão de “me
ferrei lindamente”.
- F-fui bem, até.
- É? Eu tirei 20 e eu soube que você
tirou nota máxima nessa matéria na prova passada, então imaginei que você tenha
ido bem nessas provas e queria saber se você poderia me ajudar.
Ela juntou as mãos e abaixou a cabeça,
um gesto de suplica.
Não preciso dizer que fiquei sem
palavras, né? Ela queria minha ajuda, mas eu só tirei a nota máxima na prova
passada porque consegui colar e eu não posso falar isso para ela, mas eu quero
ajuda-la. Meu cérebro trabalhou a milhão então fui salvo.
Meu melhor amigo e amigo de infância,
Kise, virou-se e falou sem pensar.
- Ei, Ryo, quer ajuda para estudar para
as provas de recuperação?
Claramente não fui salvo da forma que
eu queria, mas não posso exigir nada na minha atual situação.
Rika olhou para mim, depois para o
Kise, pensativa.
- Você foi bem nessa prova, Kise?
- 97/100. – Respondeu ele fazendo um v
com os dedos.
- E você, Ryo?
E novamente eu evitei contato visual.
- Ryo? – Insistiu ela.
- Aposto que ele não chegou nem nos 10
pontos.
- Eu passei sim, tirei 15. – Não
consegui me segurar e acabei falando mais alto do que devia.
Percebi então que eu havia revelado
minha nota, olhei lentamente para a Rika e para a minha surpresa ela estava
sorrindo.
- Que bom que eu não fui a única a
tirar nota baixa.
Ela parecia orgulhosa pelo fato de eu
ter tirado uma nota pior que a dela, isso me deixou irritado.
- 15? Quer ajuda para estudar também?
- Sério? Você me ajudaria?
- Claro, esse idiota aqui não aprende
nada, então mudar um pouco os ares seria melhor.
- Ei, não dê ouvidos a ele, ele é um
professor espartano. – Cochichei para a garota.
- Sou espartano apenas contigo, porque
você não consegue aprender nada e fica se distraindo facilmente. Você devia
ficar mais atento nos estudos.
- Cala a boca. – Respondi,
envergonhado.
- Ok, então vou ajudar apenas a Rika.
Ao ouvir a declaração do Kise, comecei
a ficar desesperado, mas tentei ao máximo fingir que não ligava, meus olhos
começaram a me trair, começaram a lacrimejar e meu rosto se juntou a traição
fazendo uma expressão desesperadora.
- Cara, que nojo! Vira esse rosto para
lá. Eu te ajudo, só pare de fazer essa expressão nojenta.
Tentei não demonstrar alegria, mas
novamente meu rosto me dedurou, minha boca se abriu em um largo sorriso e meus
olhos brilhavam de felicidade.
Rika começou a rir novamente, quando
percebi comecei a enrubescer então me levantei.
- O que foi? Está bravo? – Perguntou
Kise.
- Vou comprar algo para beber.
- Mas a aula vai começar agora.
- Volto em um instante. – Quando toquei
a porta, a outra porta da sala se abriu e o professor entrou na sala.
- Em seus lugares, a aula vai começar.
– Pediu o professor. – Ei, Ryo, onde você está indo?
Mesmo de costas, percebi que o Kise e a
Rika riam de mim, o que me deixou mais envergonhado ainda. Lentamente voltei
para meu lugar e então a aula prosseguiu.
Após as aulas fomos direto para minha
casa, fazer uma sessão de estudos. Como foi inesperado essa decisão, fiz com
que Kise e Rika ficassem do lado de fora enquanto eu arrumava meu quarto, já
que eu vivia sozinho em um apartamento de cômodo único.
Sentamos em volta de uma mesinha que
ficava no centro do quarto, eu fiquei perto da cama, Kise ficou de frente
comigo e Rika ao meu lado esquerdo. Assim que ficamos confortados, começamos os
estudos.
Várias horas se passaram e meu cérebro
pifou várias vezes, o que fazia o clima melhorar quando os estudos ficavam
sufocantes, então o celular do Kise toca, ele atende enquanto vai para o canto
do quarto e em pouco tempo retornou para a mesa, com uma expressão preocupada.
- Por que essa cara? Lembrou que
queimou algo em casa e sua mãe ligou dando bronca?
- Não, me ligaram do trabalho, a
movimentação está grande e estamos sem funcionários então pediram para eu ir
ajudar na loja.
- Agora?
- Sim. Bom, como já deixei uma lista de
exercícios para vocês, vou ir pro trabalho, bom estudo.
- Espera! – Corri para a porta antes
que Kise saísse. – Você vai me deixar sozinho com ela?
- Claro, vocês têm que estudar. É só
focarem nos estudos que está tranquilo. – Então Kise percebeu o que eu quis
dizer e sorriu maliciosamente. – Vejo que você é muito safado, se comporte eim.
– Dito isso, ele saiu pela porta e me deixou sozinho com a Rika.
Maldito, o que ele pensa que está
fazendo? Eu não sou safado, mas é estranho um garoto e uma garota ficarem
sozinhos, pelo menos é o que eu acho.
Voltei a me concentrar nos estudos e
ficamos um momento em silêncio, estudando.
- Está tudo bem para você, Rika?
- O que?
- Ficar aqui, sozinha comigo.
- Ah, sem problemas, não é como se você
fosse fazer alguma coisa comigo, né? – Sorriu, um sorriso inocente e radiante
que me deixou cego por pensar besteiras. – Por que a pergunta?
- Porque pensei que isso te incomodaria,
afinal era para nós três estudarmos.
- Sim, mas o Kise deixou uma lista de
exercícios então tudo bem, ainda podemos estudar.
- Certo. – Acho que estou pensando
demais.
Voltamos a fazer os exercícios e sempre
conversávamos sobre uma questão que não sabíamos. Realmente íamos apenas
estudar.
- Diga, Ryo, você gosta de alguém? –
Perguntou ela sem tirar os olhos do livro.
Olhei assustado para ela e ao mesmo
tempo envergonhado, pensando. Meu rosto devia estar bem vermelho pois ela me
olhou de relance e ficou constrangida.
- Por que a pergunta?
- Só curiosidade.
- E você? Gosta de alguém?
- Quem? Eu? Não, ninguém, nenhuma alma
viva. – Ela soou meio desesperada, assustada talvez?
Não sei se eu comemoro ou se fico
triste, mas não deixarei isso me abater.
- Sério? Pensei que você gostava de
alguém.
- Po-por que eu gostaria?
Definitivamente ela está nervosa, tão
na cara que gosta de alguém. É, acho que vou ficar triste.
- Hum, por nada.
Sinto que trocamos de papel.
Normalmente sou eu quem iria estar envergonhado, mas estou gostando de
envergonhar ela... acho que sou um pouco sádico.
Ela gosta de alguém, mas não quer
admitir, então vou provocar ela mais um pouco.
- E beijo? Você já beijou alguém?
Provavelmente sim, né?
- B-b-b-b-b-beijo?! – Seu rosto parecia
um pimentão. Acho que ela está ficando desconfortada com a conversa, melhor
parar.
- É, mas deixa pra lá, é um assunto
delicado e...
- Não. Nunca beijei ninguém. – Cortou ela.
Só consegui olhar para ela surpreso. Eu
jurava que ela já tinha beijado alguém.
- Se-sério? Nem seu namorado?
- Nunca tive um. – Apesar de
envergonhada, sua voz soou triste.
Fiquei sem palavras, não sabia o que
dizer. Fechei os olhos, pensei e pensei, mas nada vinha na minha mente então
abri os olhos e levei um susto, Karin estava colada perto de mim, eu conseguia
sentir sua respiração, o calor de seu corpo, ela parecia conseguir ver minha
alma através de meus olhos.
- E você? Já beijou alguém?
- E-eu j-j-já. – Que mentira! Por que
eu fui mentir justo agora?
- Então, será que você poderia me
ensinar? – Sua voz era provocante, seus olhos brilhavam, seu rosto estava
corado, irresistível.
- Q-quer que eu te ensine a beijar?
- Sim, não pode me ensinar?
- Bem, beijar é meio instintivo então é
só com o tempo que você aprende e... – E o que eu estou falando? Eu nunca
beijei ninguém na minha vida!
- Então vamos treinar.
Ela se aproximou mais ainda, eu
conseguia sentir o hálito dela próximo a minha boca, tinha cheiro de hortelã,
sua respiração estava rápida e entrecortada, ela então fechou os olhos, seus
lábios se juntaram e se aproximaram dos meus.
Eu estava hipnotizado, não consegui
resisti, nem se eu quisesse eu resistira, simplesmente rolou. Nossos lábios se
tocaram suavemente, pressionados um contra o outro, a macies de sua boca era
extasiante, provavelmente eu já estava viciado.
Percebi que a boca dela estava um pouco
aberta, então abri a minha e fui surpreendido com sua língua atacando a minha,
nossas línguas dançavam furiosamente dentro de minha boca, quando ela recuava
sua língua, eu a seguia e a dança recomeçava.
Puxei-a para mais perto de meu corpo em
um abraço firme e forte, colei seu corpo ao meu, fizemos carinho um no outro,
massageamos nossas costas e finalmente ficamos apenas abraçados.
Nos separamos lentamente, nossos olhos
se abriram e eu pude ver aquele brilho em seus olhos, ela sorriu para mim,
devolvi o sorriso, ela apoiou a cabeça em meu peito e ficamos descansando.
Nosso momento de paz foi interrompido
por um toque alto, uma música, o celular dela tocava, trocamos olhares tristes,
mas ela se levantou e atendeu o aparelho. Quando desligou, suspirou.
- Eu tenho que ir, meus pais vão sair e
eu tenho que cuidar da minha irmã.
- Uma pena.
- Sim.
- Ei, Rika.
A garota, que estava arrumando suas
coisas, se virou para mim com um sorriso.
- Quer namorar comigo?
Ela se aproximou e me beijou.
- Sim, mas não conte a ninguém no
colégio, afinal é proibido namorar dentro das propriedades da escola.
- Certo.
- Então nos vemos no colégio.
- Até.
E a porta se fechou atrás da garota, da
minha namorada.
Fim.
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