sexta-feira, 13 de maio de 2016

UM SONHO ESTRANHO

Olá leitores,

Trago mais uma história a parte, uma história curta e simples.

Espero que goste, boa leitura.

Um sonho estranho


Todo dia eu pego o metro no mesmo horário e todo dia eu a vejo. Cabelos lisos até os ombros, um rosto delicado, mas com um olhar de mistério e para completar ela era baixinha e de corpo esbelto. Geralmente está vestindo uma saia azul marinho e uma camisa polo branca com uma gravata vermelha, um all star preto e branco com meias brancas que chegavam até suas coxas, se vestia igual a uma daquelas colegiais de filmes americanos. Carregava nas costas uma mochila pequena e nas mãos, um fichário com um desenho que não me era estranho.
Sempre me peguei pensando em como me aproximar dela, mas minha timidez não ajuda, também não sou criativo e muito menos acontece algo que eu possa utilizar para iniciar uma conversa com ela, até aquele dia.
Era mais um dia normal, peguei o metro e, como era de se esperar, ela estava a bordo também. Por coincidência, consegui um lugar para sentar próximo a ela. Sentei-me e fechei os olhos, mas tive a sensação que alguém me observava. Abri um dos olhos e não percebi ninguém me olhando, voltei a fecha-lo. De vez em quando eu abria um olho para ver se a garota ainda estava por perto, e para a minha felicidade, ela estava.
O metrô seguiu seu caminho rotineiro, mas houve alguns solavancos fortes, o que deixou os passageiros preocupados. O silêncio imperava no vagão, quebrado apenas pelo som das rodas do trem passando pelos trilhos, quando a voz do maquinista soou pela caixa de som “Este trem prestará serviço apenas até a próxima estação, por favor desembarquem.”.
Mas que droga”, pensei, “justo hoje que eu não posso me atrasar o trem dá problema”.
O trem parou na estação seguinte como o condutor havia falado, todos os passageiros desceram e ficaram parados perto do trem, eu consegui abrir passagem pela muralha de pessoas que se formou em frente a porta e fui para o mais longe possível da multidão. Fiquei refletindo sobre minha sorte até que alguém me deu tapinhas no meu ombro. Ao me virar, tive uma bela surpresa, a garota que sempre pega o trem comigo estava querendo falar comigo, ou talvez ela só queria passar pois eu estava meio que no meio do caminho.
- Com licença, nós pegamos o mesmo trem todos os dias, não? – Perguntou a garota.
- Ãn, nós... é... hum... aham... – Grunhi. Excelente primeira impressão que passei, né.
A garota sorri gentilmente e então faz sinal para segui-la. Estranhei o que estava acontecendo, tanto que me belisquei e doeu bastante, não era um sonho. Saímos da plataforma de embarque e fomos até um canto onde havia uma porta com uma placa, nela estava escrito “Apenas funcionários”. A garota simplesmente a abriu e entrou, antes que a porta se fechasse, eu a segui.
A porta dava em um longo corredor de aparência velha e abandonada, mal iluminado por lâmpadas fracas de cor alaranjada. Continuamos andando pelo corredor até chegar a uma outra porta, dessa vez ela era de madeira e bem velha, rangia só de tocar nela, a garota me esperava perto da porta.
Ao me aproximar, perguntei:
- Para onde você está me levando? É algum caminho utilizado apenas pelos funcionários para chegar na próxima estação?
Novamente ela apenas sorri, abre a porta e passa por ela, me deixando no vácuo. Hesitante, a segui. O lugar estava totalmente escuro, não dava para enxergar nem um palmo em frente ao nariz, a única iluminação vinha do corredor que acabamos de sair e, como se a luz machucasse, alguém bateu a porta de madeira com força, me deixado na escuridão total.
Fiquei alguns instantes parado, de olhos fechados, tentando escutar qualquer coisa que pudesse me ajudar a me orientar. Resolvi andar de costas até a porta, tomando o cuidado para não cair e perder a direção certa. Cheguei até a porta, tentei girar a maçaneta, mas ela havia emperrado, forcei um pouco e ela quebrou.
- Sério? – Perguntei indignado para a porta. – Eu nem usei tanta força assim.
Ficando de costas para a porta enquanto pensava em como iluminar o local, me lembro que possuo um celular e o mesmo tem luz de flash, pego o aparelho e ligo a luz. Aparentemente não era meu dia, meu celular estava sem bateria. Respirei fundo para tentar controlar meus batimentos cardíacos que estavam ficando cada vez mais rápidos.
- Tem alguém aí? Jovem, onde você está? Onde estamos? – Perguntei alto na esperança que a garota me respondesse.
Silêncio. Esperei mais alguns segundos antes de fazer qualquer coisa e então as luzes se ascenderam. Foi tão súbito que fiquei cego momentaneamente, meus olhos demoraram um pouco para me acostumar com a luz, mas quando comecei a me acostumar, vi algo surpreendente.
O lugar era um retângulo gigantesco, pelas mesas, equipamentos e cor, o local parecia uma instalação militar abandonada, cheio de baias com documentos velhos, vários outros corredores, duas escadas que levavam para o piso superior e vários buracos nas paredes, a maioria do tamanho de balas, outros causados pelo tempo.
No piso de cima, a garota me olhava de um jeito travesso, como se estivesse dizendo “está com você, venha me pegar”. Assim que trocamos olhares, ela se virou e saiu correndo por um dos corredores, subi e fui em sua direção. O andar de cima não era muito diferente do andar em que eu estava, cheio de corredores abandonados com escombros, buracos nas paredes e algumas grades de metal com portas, celas talvez?
Confesso que achei isso muito estranho, e arrepiante, mas fiquei mais curioso para saber o que ela estava aprontando então resolvi andar pelo lugar, procurar a garota. Entrei por um corredor e segui até o final quando ouvi um grito, corri para o lado em que me pareceu vir o grito e pude ver de relance a garota ser arrastada para dentro de uma sala. Corri até ela, mas a porta se fechou na minha cara e eu não conseguia mais abri-la.
Chutei a porta algumas vezes, tentei investir de ombros, mas a porta não cedeu. Comecei a procurar outro caminho, abri todas as portas daquele corredor para ver se alguma delas se encontrava com aquela que a garota foi arrastada, não tive sorte.
Me encostei em uma parede para descansar e ela cedeu com meu peso, acho que eu devia fazer uma dieta. Por sorte o buraco deu no corredor que eu precisava então me levantei logo e corri a procura da garota.
A cada corredor que eu percorria, eu parava por um instante para saber para qual lado correr ou qual porta entrar, me guiando pelo barulho que a garota fazia enquanto era arrastada. Após dez minutos desse “pega-pega”, finalmente o barulho ficou parado em uma sala, antes de entrar nela tentei ouvir algum som de dentro, alguém andando talvez, mas nada então entrei e me deparei com um corpo no chão.
Me aproximei do corpo lentamente, percebi que não era a garota pelas botas que a pessoa usava. Quando cheguei perto, para a minha surpresa, era um homem, ele vestia uma farda de exército branca, suas botas eram de um cinza claro e ele sangrava na altura do abdômen.
Ele não reagiu quando me aproximei, mesmo assim verifiquei seu pulso, ele estava morto. Quem será que havia matado esse homem? Seja o que tenha feito isso, salvou a garota, mas... onde ela está? Me levantei e comecei a olhar em volta à procura de algum sinal dela, pois o que quer que tenha feito aquilo com o soldado, podia muito bem estar com a garota agora.
Quando olhei para trás, vi a garota de pé no canto da sala. Ela estava de cabeça baixa e sua roupa estava suja de sangue, em suas mãos algo brilhava e a ponta estava vermelha, aquilo era uma faca?
A última coisa que me lembro foi de ver seu rosto, duas luas minguantes formavam seus olhos, sua boca era aberta como um sorriso, através de seus olhos e boca, apenas a escuridão era vista. Ela avançou contra mim e eu senti algo quente em meu estomago.
Então acordei. Eu ainda estava no metro, não houve parada obrigatória nem nada. Olhei em volta para ver se não estavam me olhando então eu a vi de relance, a garota com aquele rosto assustador. Fechei os olhos e abri novamente e ela estava com o rosto normal, ela me encarava intensamente. Será que ela sabe com o que sonhei?
Fim

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