Uma história bem "wtf", espero que gostem.
Boa leitura.
SONHO?
Você já teve a sensação de que está sendo
observado? Não? Pois bem, é uma coisa muito estranha, pense que você está de
boa, sentado em uma praça com diversos repórteres tirando foto de você e
gravando tudo que você está fazendo, desde respirar até quando você coça a
cabeça, é, é algo assim a sensação de ser observado.
Perguntei isso porque passei por uma situação
complicada dias atrás. O que? Quer saber que situação foi essa? Bom, vou
contar, mas não me julgue, para mim aquilo foi muito esquisito.
Era madrugada de quinta, eu estava em casa, mexendo
no pc, sabe como é né, madrugada é uma ótima hora para jogar sem ninguém te
incomodar, ninguém para gritar com você falando que você não fez tal coisa.
Enfim, eu estava lá, jogando, ganhando várias partidas de Counter-Strike, tanto é que eu estava surpreso com as consecutivas
vitórias, geralmente eu perco mais do que ganho.
Então aconteceu, pelo canto do olho pensei ter
visto algo, não passava de um metro de altura, a maior parte era branco, mas no
topo era amarelado, quase um dourado. Olhei rapidamente para o lado, mas não
havia nada ali, achei que estava vendo coisas, afinal quase três horas da
madrugada, eu provavelmente estava ficando com sono já.
Como não vi nada de estranho, voltei a jogar, mas
novamente pelo canto dos olhos eu vi aquilo de novo, dessa vez mais nítido,
parecia uma garota, ou mesmo uma boneca, usava um vestido branco cheio de
babados e seu cabelo era liso e de um louro quase dourado, sua pele era branca,
mas não pálida.
Ok, eu realmente estava vendo coisas. Meu cérebro
estava pregando peças, mandando eu ir dormir e quem sou eu para discutir com
meu cérebro? Quando a partida terminou, sai do jogo, desliguei os monitores e
fui em direção ao meu quarto, como estava tudo escuro, utilizei da luz do meu
celular para me guiar, passei a luz no canto onde eu vi a garota/boneca e levei
um susto, ela ainda estava lá. Tornei a iluminar o local, mas ela havia
desaparecido. Ok, ok, estou indo dormir
cérebro, pensei.
Parei por alguns segundos, olhando o canto da sala,
respirei fundo e contei até dez, o que o sono não faz, não? Assim que meu
coração começou a bater mais lentamente, tornei a ir em direção ao meu quarto,
soltei alguns bocejos e cocei minha lombar, abri a porta do quarto e entrei,
coloquei meu celular em cima da mesa da televisão e tirei meus óculos, coloquei
eles na mesa também, peguei meu celular e fui em direção a minha cama... em
direção a minha cama... cadê minha cama?
Quando me dei conta eu não estava mais em meu
quarto, e sim em um lugar completamente desconhecido, apesar que ainda parecia
ser um quarto, mas um bem velho e abandonado. O lugar tinha uma fraca
claridade, provavelmente por causa da luz da lua que entrava pelas janelas
destruídas. Olhei para a porta atrás de mim e vi que eu não estava mais em
minha casa, fui sequestrado por aliens! Não, espera, isso é absurdo, se fossem
aliens mesmo então eu não estaria de pé, provavelmente eu estaria deitado em
alguma cama, sendo examinado e blá blá blá. Mas esse não era o caso.
Percorri o lugar com meus olhos, o que vi me fez
lembrar de um quarto de hospital, papel de parede cinza e todo rasgado, uma
cama com grades para evitar que quem deitasse ali não caísse, um sofá todo
destruído encostado próximo a cama e duas portas, uma por onde entrei e a outra
deve ser a do banheiro.
Um estalo soou atrás da porta que provavelmente
dava para o banheiro, levei um baita susto por causa disso, mas ainda assim me
forcei a ir em direção do estalo, abri a porta lentamente e estava tudo escuro
do outro lado. Soltei minha respiração, peguei meu celular e liguei a luz,
apontei a luz para dentro do lugar e vi uma garotinha vestida com uma camisola
azul claro aberta nas costas, ela estava descalça e estava encolhida do lado
oposto a porta.
Olá, gaguejei,
você está bem?
Sem resposta.
Fui em direção a garota e ao me aproximar coloquei
minha mão direita sobre o ombro dela então ela virou-se subitamente e o que eu
vi me fez gritar igual a uma menininha, ela não tinha rosto, mas tinha uma boca
arredondada que cobria seu rosto, camadas circulares de dentes até um ponto
negro bem no meio, provavelmente era o fim da boca e o começo da garganta dela.
Saltei para trás enquanto gritava, ela se levantou e começou a caminhar em
minha direção, quando se aproximou de mim, ela pegou minha mão e eu a ouvi, uma
voz meiga e triste.
Você não deveria estar aqui, moço.
De onde vinha a voz, eu não fazia ideia, pois a
boca arredondada não se mexeu quando ouvi a voz. Telepatia, talvez?
Vá embora, antes que ele volte.
Ele quem, jovem?, perguntei, mesmo
sabendo que provavelmente eu não receberia uma resposta.
Corra.
Então tudo ficou preto e quando a iluminação da lua
voltou, ela havia sumido. Certo, hora de correr daqui. Me levantei e fui em
direção a porta que supostamente me levaria para fora daquele quarto, abri ela
e me surpreendi novamente, a porta dava em outra sala, dessa vez era uma sala
bem mais fria, com algumas lâmpadas funcionando e na parede oposta da porta
havia várias gavetas de metal com cerca de quarenta centímetros quadrados,
talvez?
Tive um péssimo pressentimento de o que poderia ter
nessas gavetas, mas mesmo assim fui em direção a elas. Me afastei alguns metros
da porta e ela bateu com força atrás de mim, me virei assustado, mas ao ver que
não havia nada atrás me senti aliviado então voltei minha atenção a parede de
gavetas de metal.
Ao me aproximar das gavetas, me lembrei o que
possivelmente teria dentro delas e isso me fez ficar parado por alguns
instantes pensando se deveria ou não as verificar. A porta atrás de mim
provavelmente estava trancada então a única saída seria olhar essas gavetas.
Bom, era um total de dez gavetas, uma delas teria algo útil.
E com esse pensamento positivo segui adiante e abri
a primeira gaveta, nada. Soltei o ar de alivio, eu esperava um esqueleto ou
algum corpo humano que se levantaria e me agarraria, mas ainda bem que não
tinha nada, agora para as outras nove gavetas.
Segunda gaveta, respirei fundo e abri, sorte
grande, um corpo de uma mulher, ou pelo menos parecia ser uma mulher, tinha
seios, não tinha a metade de baixo e seu rosto havia sido retirado, deixando
apenas um crânio com carne apodrecendo. Ah, esqueci de mencionar que o cheiro
daquela sala era insuportável. Fechei a segunda gaveta e fui para a terceira.
A terceira foi mais tranquila, tinha só uma cabeça
de uma boneca em escala real e com detalhes assustadoramente reais, fechei a
gaveta e fui para a próxima.
Ok, nessa gaveta eu tirei zero na rolagem de dados
de RPG, ou seja, uma falha critica. Deitado dentro da gaveta quatro havia um
homem alto, havia algumas laminas de serra para cortar madeira encravadas em
seu rosto e ele vestia uma roupa de couro preto, ele pareia estar dormindo ao
invés de morto.
Fiquei encarando ele e então seus olhos abriram e
senti como se minha alma fosse sugada para dentro dele, empurrei a gaveta para
fecha-la e me afastei o mais rápido que pude. O som de algo batendo em metal
soou vindo da gaveta, ele acordou e quer me matar, ótimo plano abrir as gavetas
e acordar seu assassino.
Tentei abrir a porta, mas ainda continuava trancada
então resolvi fazer algo que não costumamos ver em filmes de terror, abri todas
as outras gavetas. Das seis que faltava, três estavam fazias, uma tinha uma
criança deitada em posição fetal, na outra tinha a parte de baixo de um homem,
acho que essa era a parte de baixo daquela mulher, bem, homem, sei lá. E na
última gaveta, uma surpresa, não havia nada dentro dela, apenas um buraco e um
túnel que levava diretamente para baixo. Bom, escolha difícil, morrer pelas
mãos do cara de laminas ou por alguma coisa dentro do buraco, optei pelo
buraco.
Escorreguei pelo túnel pelo que parecia horas até
cair de bunda em uma montanha de algo duro e sair deslizando por uns bons três
metros, olhei para trás para ver em que aterrissei e não me surpreendi, uma
pilha de ossos, típico.
Levantei-me e massageei minha bunda, que estava
dolorida, então olhei em volta e vi uma porta dupla de madeira quase destruída
jogada ao lado de uma passagem que possivelmente era onde essa porta ficava,
alguém havia arrancado a porta do lugar.
Saí pela passagem e me deparei em um salão
gigantesco, pilares de pedra empilhadas, o salão lembrava uma daqueles estágios
de luta do Mortal Kombat. Do outro lado do salão havia outra porta, a saída
espero. Fui em sua direção e quando cheguei no meio do salão a porta é
escancarada e um palhaço apareceu.
Ele vestia aquelas roupas largas de peça única
cheia de bolinhas coloridas, um sapato gigantesco, luvas brancas com gotas
azuis em cada dedo e seu rosto me era familiar, o nariz era vermelho, usava
batom quase de uma orelha a outra, sempre sorrindo sem mostrar os dentes, em
volta dos olhos estava totalmente preto e atravessando do meio da testa até
chegar ao lado da base do nariz haviam duas pinturas que pareciam espadas
azuis.
Um palhaço, pensei,
acho que consigo fugir.
Então o som de algo ou alguém aterrissando de bunda
na pilha de ossos na outra sala ecoou pelo salão, acho que o cara de serra me
seguiu. E novamente ponto para mim, olhei para trás e lá estava ele, em pé
tinha quase quatro metros, medonho. Por algum motivo, seu olhar não estava
direcionado para mim, e sim para o palhaço em minha frente.
O palhaço ficou encarando ele, será que ia
acontecer o que eu acho que ia acontecer? O cara de serra começou a correr em
minha direção assim como o palhaço e, espera, desde quando ele estava
carregando um facão?
Sai da frente deles indo para o mais longe possível
e vi uma cena impressionante, o cara de serra havia jogado algumas serras no
palhaço, que as desviou usando seu facão e quando se chocaram, o cara de
serrava segurava duas serras circulares como se fosse soco inglês e ambas as
serras estavam segurando o facão do palhaço.
O cara de serra joga os dois punhos, junto com o
facão do palhaço, para a esquerda e ao mesmo tempo chuta o palhaço com sua
perna direita, o palhaço desvia se abaixando e quando se levanta, já lhe aplica
um soco com a mão esquerda, fazendo o cara de serra se afastar alguns passos.
Eles ficam se olhando, o palhaço começa a rir e a
pular revezando as pernas, o cara de serra avança novamente, mas o palhaço lhe
dá um chute de direita e utilizando a força do giro, aplica um golpe com o
facão vindo de cima para baixo em direção ao pescoço do cara de serra, o que
para o azar do palhaço foi um golpe em vão, afinal algumas serras saiam do
pescoço dele.
Cara de serra pega o palhaço pelos calcanhares e os
puxa, fazendo-o cair, então ele monta no palhaço e começa a socar ele com seus
punhos de serra.
Enquanto eles brigavam, aproveitei a oportunidade
para sair de fininho pela porta que o palhaço entrou, e acabei saindo no meio
de uma clareira, no meio de uma floresta. Uivos soaram não muito distante de
onde eu estava, olhei em volta e comecei a correr para o lado oposto dos uivos,
não que isso iria servir para algo.
Não conseguia ver direito por onde eu corria, pois
a floresta era um pouco densa e a luz da lua, ou sol, não conseguia penetrar
entre os galhos então acabei tropeçando em uma raiz, caindo de cara no chão.
Rápido, por aqui, uma voz conhecida me
apressou.
Olhei para o lado e vi a garota com cara de boca de
verme, ela sinalizava para eu segui-la e então entrou dentro de uma árvore.
Certo, porque entrar dentro de uma árvore é super normal. Me levantei e entrei
na árvore também, dentro a árvore era oca e espaçosa, parecia um daqueles
armários que ficam debaixo da escada, sabe?
Quando fui perguntar algo a ela, a garota cobriu
minha boca e então ouvi folhas sendo amassadas e grunhidos de lobos, na frente
de onde havíamos nos escondido, um grupo de cinco lobisomens pararam e
começaram a farejar, aposto que estavam me procurando. Um deles olhou
diretamente para nós, mas então balançou a cabeça e saiu correndo, os demais o
seguiram.
Saímos do esconderijo olhando os lobisomens
correndo para longe, me virei para agradecer a garota, mas ela havia sumido
novamente, odeio quando ela faz isso. Olhei em volta pensando em qual direção
seguir, bom, duas direções definitivamente eu não seguiria, o caminho da
esquerda em que os lobisomens foram e o caminho da direita que eu vim, então segui
o caminho do meio para baixo.
Caminhei um pouco até que uma cabana surgiu no meio
das árvores, suspeito, mas eu já estava cansado de andar então fui até ela.
Andei em volta para ver se não tinha nada perigoso e quando decidi que não
podia ser pior do que já estava, entrei na cabana.
A cabana estava totalmente escura e a única luz era
a luz da lua que vinha da porta, caminhei para dentro, um passo, dois passos,
três passos e então um barulho alto ecoou nas minhas costas, me virei e a luz
havia sumido, a porta havia batido e se fechado, voltei para a porta para
tentar abri-la, mas ela havia sumido.
Me virei para a escuridão, meu coração batendo
forte, eu conseguia ouvir minha respiração e meu coração batendo. Respirei
fundo e comecei a andar lentamente rumo ao desconhecido então quando eu menos
esperava, uma pancada. Bati meu dedinho do pé direito em alguma coisa, no
reflexo estiquei meu braço esquerdo para me apoiar e acabei apertando um botão
e uma luz se acendeu então me vi no meu quarto, eu havia chutado o criado mudo
que ficava do lado de minha cama.
Olhei em volta para ter certeza que eu realmente
estava em meu quarto, fiquei pensando e refletindo sobre as coisas que vi,
desisti, dei de ombros e fui dormir. Mal eu sabia que do lado de fora do meu
quarto, os monstros que eu havia visto estavam lá, olhando com curiosidade o
novo mundo para o qual eles foram libertados.
Fim.
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