Boa leitura e obrigado.
DESEJO –
Parte 3 – Final.
No
dia seguinte, Leo não apareceu para visitar Mari, o que a deixou triste e
preocupada. No período da tarde, os gêmeos apareceram para brincar com ela,
isso a animou um pouco. Brincaram a tarde inteira, mas não falaram nada sobre
Leo. Mari começou a achar que Leo havia recebido alta e ido embora sem se
despedir, só que a ideia não podia ser real pois ele não iria embora sem se
despedir, pelo menos, dos gêmeos.
As
horas passaram lentamente e o dia foi chegando ao fim, mesmo se divertindo Mari
percebia que faltava algo, ou alguém. Os gêmeos agiram normalmente, conversavam
e se divertiam enquanto Mari se esforçava para se divertir, mas sempre acabava
pensando em Leo e seu sorriso desaparecia. Quando a noite finalmente chegou, os
gêmeos foram embora para seus quartos e Mari decidiu dormir mais cedo.
Ela
se deitou e tentou dormir, porém um sentimento de vazio a incomodava. Uma forte
tosse atacou a garota, ela tossia e tossia até que finalmente parou, ao olhar
para sua mão viu que estava suja de sangue, e não eram apenas gotas de sangue,
mas sim uma mancha sangue que cobria quase toda a palma da mão. O médico havia
comentado mais cedo com uma enfermeira que talvez ela tivesse que ser movida
para a UTI e usar medicamentos mais pesados.
Com
medo de ser movida de quarto, Mari se levantou e foi ao banheiro lavar sua mão.
Ela lavou a mão, mas o sangue não saia, começou a esfregar mais forte,
esfregava com mais força, começou a entrar em desespero, começou a soluçar de
agonia, o sangue não saia. Após algum tempo de desespero e angustia, sua mente começou
a clarear e quando ela olhou para sua mão o sangue havia desaparecido.
Um
pouco mais calma, Mari saiu do banheiro e foi se deitar, mal havia chegado
perto da cama ela ouviu alguém bater na porta, três batidinhas.
-
Leo? – Perguntou a garota instantaneamente.
A
porta se abriu e um jovem entrou no quarto, ele estava usando uma máscara de
proteção branca que cobria sua boca e nariz, vestia uma camisa regata de cor
verde terra com um desenho de dinossauro estampado na frente e uma bermuda
preta que ia até pouco abaixo de seus joelhos e seu chinelo era uma havaiana vermelha.
-
Oi. – Falou Leo, tímido.
Mari
saiu correndo em sua direção e o abraçou com força, quase derrubando-o com o
impacto. Leo ficou surpreso com a reação da garota, mas logo devolveu o abraço
com um sorriso de alivio.
-
Por onde você andou? Não apareceu o dia todo fiquei preocupada e os gêmeos não
me falaram nada. – Falou Mari, sem pausa para respirar.
-
Desculpe, eu estava resolvendo uns probleminhas, mas agora está tudo bem. Vamos
sair hoje?
-
Hoje? – Mari ficou surpresa com o convite repentino.
-
É, hoje. Quero te levar a um lugar. A gente vai e volta rapidinho, ninguém vai
perceber. – Leo sorriu.
Mari
cedeu ao sorriso do garoto e concordou com a cabeça. Ela pediu para ele esperar
do lado de fora pois ia colocar uma roupa que não fosse as do hospital. Em
poucos minutos a garota sai do quarto e Leo ficou impressionado com a aparência
dela. Ela estava usando uma camisa de manga regata de cor salmão com botões
brancos, uma saia xadrez, meia calça preta e uma sapatilha com fivela. Seus
cabelos estavam presos na ponta e caídos sobre seus ombros.
- O
que foi? Por que está me olhando assim? – Perguntou a garota, tirando Leo do
transe.
-
Ahn, nada. Então, vamos? – Leo perguntou sem jeito enquanto se encaminhava em
direção a recepção do hospital. Se eu
soubesse que ela ia estar tão arrumada, eu teria me arrumado melhor,
pensou.
Os
garotos andaram sorrateiramente pelos corredores, deram sorte em não encontrar
nenhum médico ou enfermeira, o que Leo achou estranho.
Saíram
do hospital e foram recebidos por uma brisa suave e húmida de verão, a noite
estava clara e a lua brilhava intensamente no céu estrelado. Seguiram em
frente, passando pela praça em frente ao hospital, o cheiro de folhas húmidas
era refrescante.
Leo
percebeu que Mari estava andando com dificuldades então pegou na mão dela e
diminuiu o ritmo, a garota corou quando ele pegou em sua mão. Passaram pela
praça de mãos dadas e em um ritmo calmo, apreciando a paisagem noturna enquanto
caminhavam.
Do
outro lado da praça, uma rua que de dia era movimentada, agora se encontrava
deserta, diversos carros parados perto da calçada, nenhuma pessoa a vista, a
rua estava tão quieta que dava para ouvir o som dos vagalumes da praça.
Atravessaram a rua e foram em direção ao edifício logo em frente, seguiram a
rua ao lado do prédio até o final onde havia um ponto de ônibus, lá esperaram o
ônibus chegar.
-
Para onde você está me levando? Vai me dizer que é para aquele lugar que eu te
falei ontem?
-
Exatamente. Você me pediu, então vou atender o seu pedido. – Leo sorriu para
sua amiga.
-
Mas eu disse que aquele pedido não contava. Vamos voltar, está tarde e o lugar
é muito longe.
Mari
começou a andar em direção ao hospital, mas foi impedida por Leo, que
continuava a segurar sua mão. O garoto apenas olhou para ela com um olhar
determinado, vendo que não conseguiria fazer Leo mudar de ideia, ela desistiu e
ficou ao seu lado esperando o ônibus.
O
ônibus não demorou a chegar, como era esperado ele estava vazio, apenas o
motorista e o cobrador. Vendo que eram apenas crianças, o cobrador se sentiu na
responsabilidade de ajuda-las.
- O
que duas crianças estão fazendo a essa hora na rua? – Perguntou o cobrador com
a voz mais simpática possível.
-
Estamos indo para casa. – Mentiu Leo.
-
Onde fica a casa de vocês? Podemos deixá-los em frente se quiserem.
-
Não precisa, o ponto já fica praticamente em frente de nossa casa. Obrigado.
Dito
isso, Leo passou pela catraca, pagando a sua e a passagem de Mari. Ambos se
sentaram no fundo do ônibus, onde o cobrador não pudesse ouvir eles
conversando.
-
Por que você mentiu para ele? – Perguntou Mari, olhando assustada para o
cobrador.
-
Porque ele não iria deixar irmos para onde queremos ir, iria parar em algum
posto policial e nos deixar lá. – Respondeu Leo, olhando pela janela e vendo a
paisagem passando rápido.
Ficaram
em silencio por um tempo até que Leo começou a cantarolar uma música, Mari a
reconheceu e começou a cantarolar também, ambos cantarolavam com um sorriso no
rosto. Começaram a conversar sobre diversos assuntos, desde a comida preferida
até que tipo de poder gostariam de ter. A viagem, que durava algumas horas,
passou rápido, tanto que quase perderam o ponto. O cobrador achou estranho eles
descerem no limite da cidade, mas Leo insistia que a casa deles ficava ali
perto.
Continuaram
andando e logo a frente havia um caminho de terra, os garotos seguiram por ele.
De ambos os lados do caminho, o mato dominava, o som de grilo ficou mais forte,
alguns pios de coruja soavam distantes. O caminho era íngreme e apertado, o
suficiente para passar uma pessoa de cada vez, Leo ia na frente enquanto
ajudava Mari a subir pelo caminho.
Não
conversaram muito enquanto subiam mais para economizar folego. Quando
finalmente chegaram ao topo, viram uma pedra gigante com alguns degraus feitos
de qualquer jeito, provavelmente alguém tentou esculpir os degraus na rocha.
Subiram por ali mesmo e se sentaram, apreciando a vista.
Leo
se sentou, Mari se sentou ao seu lado e ambos ficaram olhando a vista. Era
realmente uma vista de tirar o fôlego. De lá dava para ver toda a cidade, uma
gigante floresta de pedra, iluminada por diversos pontos brilhantes das mais
variadas cores.
Mari
começou a tossir, Leo ficou assustado.
-
Mari, o que houve? Você está bem?
-
Estou. – Conseguiu responder Mari entre uma tosse e outra. – Tudo... bem. –
Voltou a tossir mais.
-
Você não está nada bem, Mari. Vamos voltar logo para o hospital. Eu não devia
ter trago você para cá. Você devia estar descansando. – Leo tentou levantar
Mari, mas ela fez força para continuar sentada. – Mari...
-
Vamos apreciar a vista mais um pouco, Leo. Por favor. Depois voltaremos para o
hospital. – Mari olhava para o garoto com olhos suplicantes, quase chorando.
Leo
não pode deixar de notar que a mão da garota estava suja de vermelho, seria
sangue? Ele fechou os olhos e pensou, refletiu sobre o que a garota pedira.
-
Você prometeu realizar meus desejos, lembra? Então eu desejo ficar aqui, com
você. – Mari abriu um sorriso fraco para seu amigo.
Leo
olhou para aqueles olhos suplicantes e aquele sorriso que o cativou desde a
primeira vez que o viu então cedeu, sentou-se novamente e ambos ficaram ali,
apreciando a vista. O vento soprava fraco, mas era refrescante. Mari encostou
sua cabeça em Leo e fechou os olhos, seu peso cada vez mais caindo para o lado
do garoto. Leo só podia continuar olhando para a frente, olhando para a cidade,
se segurando para não chorar. Então, o mundo parou e o garoto apenas escutou.
-
Muito obrigada, Leo.
O
peso da garota caiu todo sobre ele, em seu rosto havia uma expressão de paz,
parecia que ela havia adormecido, e um sorriso gentil. Mari não se mexia, não
respirava, Mari havia partido.
Fim
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