DESEJO – Parte 1.
- Quantas vezes eu tenho que falar que
eu estou bem? Não preciso ir para o hospital. – Insistia um garoto para sua
irmã mais velha.
- Não me importo com o que você diz, se
eu acho que você deve ir para o hospital, então você irá para o hospital. –
Respondeu a irmã mais velha do garoto. – Quem sabe eles não encontram uma cura
para essa sua idiotice de ser transcendente? – Zombou a garota.
- Idiotice? Não é idiotice, eu realmente
sou um ser que transcende esse plano! Um gênio, um gênio incompreendido. –
Declarou o jovem se levantando da cadeira de rodas, mas logo perdeu as forças
nas pernas e sentou-se novamente.
- Tá, tá, tá, agora fique sentado ai
descansando senhor ser transcendente.
Os irmãos passaram pela porta
automática do hospital e o som suave e familiar da campainha toca, avisando de
sua entrada. O local estava com vários enfermos esperando serem chamados pela
senha, enfermeiros corriam de um lado para o outro, médicos andavam com
pranchetas e acompanhados de outros enfermeiros, todos discutindo algum caso
urgente talvez.
A garota levou seu irmão direto para o
guichê mais próximo, onde uma atendente bem vestida, de cabelos encaracolados
presos em um coque e com um olhar perspicaz os atendeu.
- Não se enganem pela sua aparência,
ela era a atendente mais experiente do lugar, rumores de que ela trabalha
naquele hospital desde sua construção, e isso faz mais de cem anos. – Falou o
garoto como se cochichasse para alguém, em voz baixa e cobrindo a boca.
- Eu ouvi isso, Leo. – Sorriu a
atendente.
- Peço mil perdões pelo meu irmão,
senhora Miller. – A garota belisca Leo no braço. – Vamos, peça desculpas a
senhora Miller.
- Ai! Isso dóis! E eu apenas disse um
rumor. – Leo vira a cara fazendo bico.
- E de onde você ouviu esse rumor?
- Tudo bem, Lilian. Aposto que foram as
crianças da ala C. Eles costumam inventar de tudo para passar o tempo. –
Interveio a atendente. – Então, o que houve com nosso querido ser
transcendente?
- Ele acordou hoje sem conseguir se
mexer, só conseguiu se movimentar enquanto vinhamos para cá. Mas parece que ele
ainda está tendo alguns problemas para se mexer normalmente.
- Eu estou bem, ela que é preocupada de
mais. Veja! – Leo se levantou da cadeira, andou alguns passos e perdeu o
equilíbrio, caindo de joelhos no chão.
- Leo! – Lilian e a atendente Miller
gritaram juntas enquanto corriam para ajudar o garoto.
- Acho que não estou totalmente bem. –
Leo conseguiu dar um sorriso fraco apesar de não sentir as pernas.
- Leve-o para a ala T, vou providenciar
a documentação para ele ficar um tempo em observação. – Pediu a atendente
enquanto ajudava Lilian a colocar Leo na cadeira.
Lilian levou seu irmão a ala T como
fora pedido, passaram por alguns corredores e pela ala C, onde Leo viu uma garota nova, como ela estava sentada em uma cama ao lado da
janela, apenas viu sua silhueta, mas pode perceber que ela era mais nova que
ele. Definitivamente eu vou visita-la.
Pensou Leo.
Leo
foi acomodado no mesmo quarto que sempre fica quando vai ao hospital, um quarto
individual no final do corredor. O quarto era bem arrumado, a cama estava
arrumada com lençóis e um cobertor novinho dobrado. Uma televisão LED de 40
polegadas estava presa a um suporte de frente a cama. As janelas tinham cerca
de 60% do tamanho da parede, o que dava uma vista incrível da praça em frente
ao hospital. Próximo a janela havia um sofá de couro branco de três lugares e
um puff redondo também de cor branca.
O quarto mais parecia um quarto de hotel do que de hospital.
Após
ser acomodado no quarto, um médico veio visitar Leo para um rápido diagnóstico,
após isso ele saiu enquanto consultava sua prancheta. Os irmãos ficaram
sozinhos, conversando por horas e horas até o anoitecer. Lilian se despediu do
irmão e prometeu voltar no dia seguinte, pois ainda precisava arrumas as coisas
na casa. Leo esperou cerca de meia hora antes de se levantar e ir
sorrateiramente para a ala C onde viu a garota nova.
No
meio do caminho, Leo se encontrou com uma dupla que se aproximava
sorrateiramente dele. Quando chegaram mais perto, Leo abriu um sorriso ao
reconhecer a dupla, eram os gêmeos da ala C, Iris e Dilan.
Iris
era uma garota de olhos verde claro, cabelos negros e lisos, era mais baixa que
Leo e tinha um sorriso travesso. Já Dilan tinha cabelos louros encaracolados,
seus olhos eram cinza claro, ele usava um óculos de armação grossa de formato
retangular, parecia um nerdizinho.
Leo
fez sinal para a dupla dar meia volta, os gêmeos obedeceram e seguiram caminho
para a ala C, entrando no primeiro quarto que estava com as portas abertas. O
quarto era grande, tinha três camas, cada uma com uma cortina como divisória,
no canto afastado da porta havia um armário e em frente a ele alguns brinquedos
estavam jogados no chão. O lugar parecia vazio, então fecharam as portas para que
pudessem conversar melhor.
-
Leo! – A garota abraça Leo com força, quase derrubando-o com o impacto.
-
Ei, Iris. A quanto tempo. Vejo que você está bem melhor. – Leo sorri para a
amiga e então olha para o garoto. – E ae Dilan, tudo tranquilo? Tem cuidado de
sua irmã como me prometeu?
Dilan,
que estava com os olhos vermelhos, balançou a cabeça positivamente, Leo chamou
o garoto com a mão então o gêmeo caiu em cima dele em um abraço apertado e
então deu um soco nele.
-
Ai, por que fez isso?
- Você
disse que não voltaria mais, disse que estava curado! Então eu fui forte,
protegi minha irmã como prometi e agora você volta? Seu mentiroso! – Chorava
Dilan.
-
Certo, Dilan. Você fez um ótimo trabalho. Agora pare de chorar, vamos. Você é
um homem, não é? – Leo sorriu com os olhos marejados.
O
gêmeo secou os olhos com a manga da camisa, Iris não desgrudava do braço de Leo
e Leo olhava para seus amigos, feliz e orgulhoso.
- Gente,
hoje cedo passei por aqui e vi uma garota nova. Vocês sabem quem ela é? –
Perguntou Leo olhando para seus amigos, esperançoso.
-
Garota? – Perguntou Iris, com um tom irritado. – Não sei de quem você está
falando.
-
Ele deve estar falando da Mari. – Comentou Dilan.
-
Shiu! Não fale o nome dela. – Falou Iris, empurrando seu irmão.
-
Vamos até o quarto dela. Quero conhece-la. – Leo começou a andar em direção a
porta.
-
Espere! Ela já está dormindo. Ela costuma dormir cedo. – Iris tentou puxar Leo.
-
Então você a conhece, Iris? E provavelmente ela está acordada. – Leo abriu um
sorriso travesso. – Vamos, quero falar com ela.
-
Não! Você não precisa ir falar com ela, ela já está de saída do hospital!
Amanhã mesmo ela vai receber alta. – Argumentou Iris, para impedir Leo de sair
do quarto.
-
Mais um motivo para eu ir vê-la. Vamos.
Leo
saiu do quarto deixando os gêmeos sobre a luz do luar. Eles se olharam, Dilan
deu de ombros e seguiu Leo, Iris bateu o pé no chão e seguiu seu irmão.
O
trio andou sorrateiramente encostado na parede, evitaram passar pela luz o
máximo possível, sempre que viam um médico ou enfermeira, se escondiam no
primeiro quarto que viam. Após alguns minutos empolgantes fingindo serem
espiões, finalmente chegam ao quarto de Mari. Leo bate três vezes na porta com
os nós dos dedos e então entra, Dilan e Iris o seguem.
Ao
entrarem no quarto, Leo ficou paralisado ao ver a cena. O vento soprava para
dentro do quarto pela janela aberta, atingindo os cabelos lisos e compridos da
garota, seu rosto, pequeno e delicado, brilhava a luz do luar. Ela estava
sentada na cama e olhando para fora de seu quarto, distraída com a paisagem
noturna.
Dilan
foi o último a entrar então ele fechou a porta, mas exagerou um pouco na força,
fazendo um banque surdo. Todos olharam para ele, que instantaneamente ficou
vermelho como um pimentão. Então a menina olhou para os outros dois que
entraram no quarto, olhou fixamente para o maior deles, Leo.
-
Quem são vocês? – Perguntou a garota. Sua voz era doce e suave, agradável de se
ouvir.
-
Eu sou Leo, e esses dois aqui são Dilan e Iris. Viemos te visitar. – Leo
sorriu.
- A
essa hora da noite? – A garota puxou a coberta para se cobrir mais.
-
Calma, apenas viemos conversar. Qual o seu nome? – Leo levou uma mão para
frente, assustando a garota.
-
Você está assustando ela, Leo. – Argumentou Dilan, acanhado.
-
É, ela deve achar que você é um maníaco pervertido que veio ataca-la enquanto
ela dormia, mas que deu o azar de ela estar acordada. Vamos embora antes que
ela chame os médicos. – Sugeriu Iris.
-
Maníaco pervertido? Por que ela acharia isso? – Leo franziu as sobrancelhas.
Quando
Leo olhou para a garota, ela havia se encolhido para o lado oposto da cama, ela
também estava tremendo e com um olhar assustado.
-
Ok, derrotador por mentiras. Amanhã eu volto, durante o dia. Então não se
preocupe. – Leo se virou para os amigos. – Vamos embora.
-
Mari... Eu me chamo Mari. – Disse a garota, hesitante.
Leo
sorriu para a garota e então os três saíram do quarto e cada um voltou para seu
próprio quarto. Naquela noite, Leo foi dormir pensando na garota que acabara de
conhecer, Mari.
Fim Parte 01
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