sexta-feira, 2 de setembro de 2016

REPLAY - Parte 4

Hoje trago a quarta parte da história "Replay".

Replay contará a história de um garoto que subitamente descobre que tem a habilidade de voltar no tempo quando ele morre ou quando um certo objetivo não é alcançado no dia, como um "replay" de jogo. A princípio ele pensa que é apenas um sonho, ou um Dèjá Vu, mas logo descobre que é a realidade então ele começa a lutar para escapar desse loop infinito de morte e falhas nos objetivos.

Boa leitura!

REPLAY – Parte 4

Me troquei rapidamente e antes de sair do quarto olhei para o calendário quando percebi algo estranho, o dia não havia mudado. Será que tudo não passou de um sonho? Dei de ombros e sai correndo do quarto, mas parei ao chegar nas escadas, sonho ou não, não iria arriscar, desci de forma rápida e cuidadosa.
Peguei uma torrada na cozinha e sai de casa como um louco desgovernado e logo no primeiro cruzamento o tempo ficou lento, virei meu rosto para o lado e vi uma parede de metal se aproximando, um caminhão me acertou em cheio.
Levantei da cama em um salto, meu corpo ainda tremia da sensação de ter sido acertado por um caminhão, definitivamente aquilo foi real e o dia está se repetindo... quer dizer que se eu morro, volto a um certo ponto do dia? Mas eu consegui passar o dia sem morrer e mesmo assim o dia não passou, será que preciso fazer algo, como uma missão?
O alarme tocava irritantemente, o desliguei e fui me trocar, por garantia olhei para o calendário e sem surpresa alguma era o mesmo dia ainda. Respirei fundo e desci para tomar o café da manhã, decidido a não correr mesmo que isso me fizesse chegar atrasado.
Como era de se esperar cheguei atrasado, já estava na segunda aula e meus amigos estranharam. O resto das aulas passou normalmente, tão entediante quanto podiam ser. Ao final das aulas matinais, Masaomi veio até mim com um sorriso, pronto para tirar sarro.
- E ae, teve uma noite animada?
- Você não tem noção. – Sorri, o que fez ele vacilar, pelo seu olhar dava para ver que ele estava em dúvida se acreditava ou não em mim.
- Se você falar desse jeito, ele vai acreditar em você. – Hikari se aproximou com um sorriso doce no rosto.
Anzu estava logo atrás, sorrindo timidamente, seria uma visão do paraíso se eu não tivesse lembrado do que houve na noite passada que seria essa noite. Essas meninas são psicopatas, mas provavelmente elas são a chave para que eu saia desse inferno de repetições.
- Eu sei que ele está mentindo. – Argumentou Masaomi, gaguejando.
- Espero que saiba mesmo, não quero ter que te explicar que foi uma brincadeira.
- Foi uma brincadeira? Viu, eu sabia.
Olhei para ele, depois para as meninas, todos estávamos com uma expressão de pena.
- Mas sério, por que você chegou atrasado hoje? – Insistiu Masaomi.
- Não quis correr, apenas isso.
- Bem, se não quis correr para chegar na escola sem se atrasar então espero que compense na aula de Educação Física.
- Educação Física? Droga, tinha esquecido. – Eu realmente tinha esquecido dessa aula, apesar de ter passado por ela duas vezes. – Acho que vou matar aula hoje.
Todos olharam espantados para mim.
- Quem é você? E o que fez com meu melhor amigo?
- Como assim? Eu só não estou com vontade ter aula de Educação Física.
Eles continuaram a me olhar surpresos.
- Ah, qual é? Vai dizer que vocês nunca tiveram aquela vontade de não ter uma determinada aula?
- Bem, sim, mas isso nunca aconteceu com você.
- Sempre tem uma primeira vez para tudo.
- Certo... então nos vemos mais tarde.
- Boa aula. – Sorri.
Eles saíram para a aula e eu fiquei na sala, quando todos da sala saíram eu fiquei enrolando um pouco então sai também e apenas fingi que estava acompanhando a turma, mas ao invés de descer as escadas em direção a quadra, eu subi para ir ao terraço.
Sai das escadas e fui para um canto me deitar, o clima não estava ensolarado, mas estava bem claro e com muitas nuvens, aproveitei o silêncio para tirar um cochilo. Nesse exato momento eles devem estar começando a jogar vôlei, pensei.
Um som alto ecoou do ginásio e vários gritos acompanharam o barulho, me levantei assustado, confuso então eu me lembrei, se eu não avisei sobre a tabela quebrada então eles iriam jogar basquete e consequentemente alguém iria morrer.
Desci correndo até o ginásio e no meio do caminho diversos curiosos saiam de suas salas e iam até a janela do corredor ver a causa do barulho, vários professores corriam apressados pelo corredor, preocupados. Pela janela dava para ver alguns alunos saindo do ginásio o que fez os professores correrem até lá.
Ao entrar no ginásio, muitos estudantes estavam em volta da tabela de basquete, horrorizados. Alguns vomitavam, outros estavam chocados, tinha até gente filmando. Abri caminho até chegar ao centro e vi o que deveria ser apenas um pesadelo, a tabela de basquete tinha caído em cima de alguém, o corpo dele estava esmagado, entranhas e sangue para tudo que era lado.
- O Masaomi enterrou... – Comentou Hikari, se aproximando de mim.
- E logo a tabela caiu em cima dele. – Completou Anzu.
- Masaomi...
Sai do ginásio andando de forma automática, como um robô. O choque de ver meu melhor amigo morto fez meu cérebro entrar em pane, minha mente ficou branca, não pensava em nada. As garotas me acompanharam para fora do ginásio, tentando fazer meu cérebro voltar ao normal.
Após muitas tentativas para me fazerem voltar ao normal, uma coisa que disseram me fez acordar.
- A culpa é da escola por não verificar as dependências do colégio para nossa segurança. – Reclamou Hikari.
- Culpa... da escola... não... minha culpa...
- É, é culpa da escola, não fique assim, ele não gostaria de te ver assim.
- Não... é culpa minha... eu deixei isso acontecer, não impedi...
- Hã? Como assim? Do que você está falando?
- Eu sabia o que iria acontecer e não fiz nada...
- Sabia o que ia acontecer? Como? É impossível saber de algo assim, a não ser que... você tenha quebrado a tabela. – Hikari se afastou, assustada.
Olhei para ela com um olhar que claramente dizia “Você está louca, garota?”. Anzu tentava falar algo, mas sempre a cortávamos.
- E como eu quebraria uma coisa dessas?
- Não sei, você é inteligente, acharia um jeito.
- Você está certa, vou achar um jeito.
Sai correndo de volta para o prédio principal, as garotas correram atrás, segui em direção ao terraço e pulei a cerca de proteção.
- O que você está fazendo? Isso não trará ele de volta! – Gritou Hikari, desesperada.
- Sim, irá trazer sim! – Minha voz saiu em uma entonação de dúvida.
- Pare, você está em choque! Volte para o terraço. – Suplicou Anzu.
- Eu farei tudo voltar ao normal, não se preocupem. – É, ficar em pé na beirada do terraço não é uma coisa legal, eu estava começando a perder o equilíbrio só de ficar parado lá.
Estiquei minha perna como se fosse dar um passo, congelei na hora. Pensar e falar é fácil, fazer é outra história. Afinal, quem em sã consciência iria pular do topo de um prédio para tentar desfazer a morte do seu melhor amigo sem ter certeza se isso vai realmente funcionar.
Parando para pensar nisso, será que aquilo só funciona se alguém me matar? Se for isso, estou ferrado, pulando para a morte na certa. Bom, seja como for, espero que eu volte no tempo. Pensado nisso, dei um passo a frente e cai do terraço de olhos fechados, pude ouvir as garotas gritarem, mas logo tudo ficou em silêncio.
Senti meu corpo parar de cair e começar a flutuar, ao abrir meus olhos a escuridão ainda predominava, mal conseguia ver um palmo na frente do meu rosto, não havia barulho algum, apenas minha respiração e meu coração batendo forte.
- Tem alguém ai? – Perguntei para o vazio.
Como resposta a minha pergunta senti uma dor inesperada no rosto, como se tivesse levado um tapa. Fiquei chocado por um momento e logo em seguida levei outro tapa.
- O que é isso? Tapas?
Mais um tapa.
- Por que estou levando tapas?
O silêncio me respondeu, um ponto branco surgiu distante, olhei de forma curiosa para ele então o ponto começou a crescer até que o lugar ficou totalmente branco, quando meus olhos começaram a voltar ao normal percebi que estava na sala de aula.
- Ok, isso foi estranho. – Falei baixinho.
- O que foi estranho? – Perguntou Masaomi.
Olhei para meu amigo, que sorria, meus olhos começaram a lacrimejar o que assustou ele.
- Ei, você está bem?
- Sim, estou.
- Então por que está chorando?
- É o sono, sabe quando se boceja tanto que começa a lacrimejar? Então, é tipo isso.
- Sei.
- De qualquer forma, não estou a fim de ir para a aula de educação física, poderia avisar ao professor que eu não estou bem?
- Eu sabia que você não estava bem, vamos, vou te acompanhar até a enfermagem.
- Não precisa, posso ir sozinho. Ah, antes que eu esqueça, avise o professor que a placa da quadra está quebrada.
- Quebrada? Como assim?
- Quando você chegar lá, verá.
Logo após eu ter comentado essas coisas a porta da sala se abriu e o professor de Educação Física entrou.
- Muito bem pessoal, hoje vamos ter aula na quadra coberta, meninos vão para a sala três se trocar, meninas se troquem aqui. Vamos ter aula em conjunto com a turma três então se comportem.
- Minha deixa, até mais tarde. – Me levantei e sai apressado.
Masaomi ia tentar me chamar, mas foi interrompido pelo professor que pedia aos garotos irem se trocar logo enquanto as garotas de outra sala entravam.
Fui até o terraço ficar deitado, esperando a aula terminar. O dia estava limpo, céu claro e algumas nuvens, a brisa era refrescante, fechei meus olhos e dormi.
- Ele deve estar aqui em cima. Ah, olha ele ali e está dormindo, incrível.
Senti algo me cutucando, quase como se fosse um chute.
- Vamos, está na hora de ir embora. Não acredito que você dormiu a tarde toda.
- Foi? Bem, nem percebi.
- É claro, estava dormindo.
- Para de pegar no pé dele, Masaomi. – Defendeu Anzu.
- Não o defenda, é muita folga dormir e não assistir as aulas da tarde.
- Ele está cansado, diferente de você que tem muita energia. Nem sei de onde você tira tanta energia. – Comentou Hikari.
- É impressão minha ou as duas estão contra mim?
- É só impressão sua. – Falaram em uníssono e sorriram.
- Certo, chega dessa barulheira, vamos embora? – Me levantei e bati em minhas costas para limpar.
Eles sorriram e voltamos para a sala para pegar nosso material e então saímos do colégio.
No meio do caminho em direção a estação de metrô, Masaomi para.
- Ei, vocês têm algo para fazer agora de noite?
As meninas se olharam.
- Eu não. – Respondeu Hikari.
- Nem eu. – Disse Anzu.
- Eu tenho. – Respondi.
- Tem é? O que? – Perguntou Wellignton em um tom de irônico.
- Dormir.
- Mais?
- É, estou com muito sono, não sei por que.
- Ah, qual é? Vamos, quero ir no fliperama.
A palavra “fliperama” me fez lembrar do que passei outra hora, ou outro dia, não sei ao certo, pelo visto o dia estava seguindo o mesmo rumo que aquele em que morro no fliperama, vamos mudar isso.
- Fliperama não.
- Por que não?
- Porque não horas.
- Onde então?
Fiquei pensativo, um lugar que seja ao mesmo tempo cheio e com privacidade... o cinema!
- Que tal um cinema?
- Cinema? – Perguntou Hikari.
- Hum, parece legal. – Aceitou Masaomi. – Vamos?
Como é fácil mudar a opinião dele.
- E o que vamos assistir?
- O que tiver em cartaz, escolheremos na hora, mais divertido assim.
Após pensarem um pouco, as meninas concordam. Seguimos então para o shopping mais perto, por sorte havia um filme interessante em cartaz então a votação foi unanime. Como era no meio da semana, o que foi um erro nos meus cálculos, o lugar estava quase vazio e conseguimos pegar lugares bem no meio da sala. Eu havia sugerido para sentar em uma ponta ao lado dele, mas Masaomi insistiu para que sentássemos de forma intercalada, então acabou que nos sentamos conforme ele havia pedido, ele na ponta, seguido da Anzu, eu e Hikari.
Durante o filme, cruzei as pernas, apoiei meus braços nos descansos de braços e me concentrei no filme. Comecei a sentir minhas mãos ficarem quentes, alguém havia apoiado as mãos nas minhas, olhei para os dois lados e me surpreendi, Hikari e Anzu estavam segurando minhas mãos, cada uma de um lado.
Certo, fiquei envergonhado e ao mesmo tempo confuso, as duas ao mesmo tempo? Está certo que eu imaginava que elas sentiam algo, apesar que apenas isso não significa na... meus pensamentos foram interrompidos quando Hikari tirou sua mão de cima da minha e puxou meu rosto para seu lado para logo em seguida me dar um beijo.
- Isso fica entre nós. – Cochichou a garota que logo voltou a sua atenção para o filme.
Fiquei olhando para ela, confuso e em choque, sem entender nada e o filme passando.
- Ei, o que você está fazendo? – Perguntou Anzu me tirando do transe da dúvida.
- Ãn, nada? – Me virei para encarar a jovem.
Quando virei meu rosto, me surpreendi com o quão próximo ela estava de mim, estávamos tão próximos que quase nos beijamos.
- D-desculpa. – Virei meu rosto para frente rapidamente.
- Não precisa se desculpar. E se você quiser se desculpar então olhe para mim, olhe em meus olhos.
Lentamente me virei e encarei os olhos negros como o carvão, mas tão brilhantes que pareciam feitos de vidro, encara-los por muito tempo me deixavam hipnotizados e aos poucos me aproximei dela até beija-la. Pressionei meus lábios contra os dela, uma sensação macia e quente passou por minha boca e então nos afastamos tão rápido quanto nos aproximamos.
- Você podia se desculpar mais vezes. – Caçoou a garota.
Apenas consegui sorrir, pensando no que acaba de acontecer e pelo que já passei, eu tinha quase certeza que o dia não acabaria bem. Espero que eu sobreviva até o fim do dia.

Continua.


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