Hoje trago a quarta parte da história "Replay".
Replay contará a história de um garoto que subitamente descobre que tem a habilidade de voltar no tempo quando ele morre ou quando um certo objetivo não é alcançado no dia, como um "replay" de jogo. A princípio ele pensa que é apenas um sonho, ou um Dèjá Vu, mas logo descobre que é a realidade então ele começa a lutar para escapar desse loop infinito de morte e falhas nos objetivos.
Boa leitura!
REPLAY –
Parte 4
Me troquei
rapidamente e antes de sair do quarto olhei para o calendário quando percebi
algo estranho, o dia não havia mudado. Será que tudo não passou de um sonho?
Dei de ombros e sai correndo do quarto, mas parei ao chegar nas escadas, sonho
ou não, não iria arriscar, desci de forma rápida e cuidadosa.
Peguei
uma torrada na cozinha e sai de casa como um louco desgovernado e logo no
primeiro cruzamento o tempo ficou lento, virei meu rosto para o lado e vi uma
parede de metal se aproximando, um caminhão me acertou em cheio.
Levantei
da cama em um salto, meu corpo ainda tremia da sensação de ter sido acertado
por um caminhão, definitivamente aquilo foi real e o dia está se repetindo...
quer dizer que se eu morro, volto a um certo ponto do dia? Mas eu consegui passar
o dia sem morrer e mesmo assim o dia não passou, será que preciso fazer algo,
como uma missão?
O alarme
tocava irritantemente, o desliguei e fui me trocar, por garantia olhei para o
calendário e sem surpresa alguma era o mesmo dia ainda. Respirei fundo e desci
para tomar o café da manhã, decidido a não correr mesmo que isso me fizesse
chegar atrasado.
Como era
de se esperar cheguei atrasado, já estava na segunda aula e meus amigos
estranharam. O resto das aulas passou normalmente, tão entediante quanto podiam
ser. Ao final das aulas matinais, Masaomi veio até mim com um sorriso, pronto
para tirar sarro.
- E ae,
teve uma noite animada?
- Você
não tem noção. – Sorri, o que fez ele vacilar, pelo seu olhar dava para ver que
ele estava em dúvida se acreditava ou não em mim.
- Se
você falar desse jeito, ele vai acreditar em você. – Hikari se aproximou com um
sorriso doce no rosto.
Anzu
estava logo atrás, sorrindo timidamente, seria uma visão do paraíso se eu não
tivesse lembrado do que houve na noite passada que seria essa noite. Essas
meninas são psicopatas, mas provavelmente elas são a chave para que eu saia
desse inferno de repetições.
- Eu sei
que ele está mentindo. – Argumentou Masaomi, gaguejando.
- Espero
que saiba mesmo, não quero ter que te explicar que foi uma brincadeira.
- Foi
uma brincadeira? Viu, eu sabia.
Olhei
para ele, depois para as meninas, todos estávamos com uma expressão de pena.
- Mas
sério, por que você chegou atrasado hoje? – Insistiu Masaomi.
- Não
quis correr, apenas isso.
- Bem,
se não quis correr para chegar na escola sem se atrasar então espero que
compense na aula de Educação Física.
-
Educação Física? Droga, tinha esquecido. – Eu realmente tinha esquecido dessa
aula, apesar de ter passado por ela duas vezes. – Acho que vou matar aula hoje.
Todos
olharam espantados para mim.
- Quem é
você? E o que fez com meu melhor amigo?
- Como
assim? Eu só não estou com vontade ter aula de Educação Física.
Eles
continuaram a me olhar surpresos.
- Ah,
qual é? Vai dizer que vocês nunca tiveram aquela vontade de não ter uma
determinada aula?
- Bem,
sim, mas isso nunca aconteceu com você.
- Sempre
tem uma primeira vez para tudo.
-
Certo... então nos vemos mais tarde.
- Boa
aula. – Sorri.
Eles
saíram para a aula e eu fiquei na sala, quando todos da sala saíram eu fiquei
enrolando um pouco então sai também e apenas fingi que estava acompanhando a
turma, mas ao invés de descer as escadas em direção a quadra, eu subi para ir
ao terraço.
Sai das
escadas e fui para um canto me deitar, o clima não estava ensolarado, mas
estava bem claro e com muitas nuvens, aproveitei o silêncio para tirar um
cochilo. Nesse exato momento eles devem estar começando a jogar vôlei, pensei.
Um som
alto ecoou do ginásio e vários gritos acompanharam o barulho, me levantei assustado,
confuso então eu me lembrei, se eu não avisei sobre a tabela quebrada então
eles iriam jogar basquete e consequentemente alguém iria morrer.
Desci
correndo até o ginásio e no meio do caminho diversos curiosos saiam de suas
salas e iam até a janela do corredor ver a causa do barulho, vários professores
corriam apressados pelo corredor, preocupados. Pela janela dava para ver alguns
alunos saindo do ginásio o que fez os professores correrem até lá.
Ao
entrar no ginásio, muitos estudantes estavam em volta da tabela de basquete,
horrorizados. Alguns vomitavam, outros estavam chocados, tinha até gente
filmando. Abri caminho até chegar ao centro e vi o que deveria ser apenas um
pesadelo, a tabela de basquete tinha caído em cima de alguém, o corpo dele estava
esmagado, entranhas e sangue para tudo que era lado.
- O Masaomi
enterrou... – Comentou Hikari, se aproximando de mim.
- E logo
a tabela caiu em cima dele. – Completou Anzu.
- Masaomi...
Sai do
ginásio andando de forma automática, como um robô. O choque de ver meu melhor
amigo morto fez meu cérebro entrar em pane, minha mente ficou branca, não
pensava em nada. As garotas me acompanharam para fora do ginásio, tentando
fazer meu cérebro voltar ao normal.
Após
muitas tentativas para me fazerem voltar ao normal, uma coisa que disseram me
fez acordar.
- A
culpa é da escola por não verificar as dependências do colégio para nossa
segurança. – Reclamou Hikari.
-
Culpa... da escola... não... minha culpa...
- É, é
culpa da escola, não fique assim, ele não gostaria de te ver assim.
- Não...
é culpa minha... eu deixei isso acontecer, não impedi...
- Hã?
Como assim? Do que você está falando?
- Eu
sabia o que iria acontecer e não fiz nada...
- Sabia
o que ia acontecer? Como? É impossível saber de algo assim, a não ser que...
você tenha quebrado a tabela. – Hikari se afastou, assustada.
Olhei
para ela com um olhar que claramente dizia “Você está louca, garota?”. Anzu
tentava falar algo, mas sempre a cortávamos.
- E como
eu quebraria uma coisa dessas?
- Não
sei, você é inteligente, acharia um jeito.
- Você
está certa, vou achar um jeito.
Sai
correndo de volta para o prédio principal, as garotas correram atrás, segui em
direção ao terraço e pulei a cerca de proteção.
- O que
você está fazendo? Isso não trará ele de volta! – Gritou Hikari, desesperada.
- Sim,
irá trazer sim! – Minha voz saiu em uma entonação de dúvida.
- Pare,
você está em choque! Volte para o terraço. – Suplicou Anzu.
- Eu
farei tudo voltar ao normal, não se preocupem. – É, ficar em pé na beirada do
terraço não é uma coisa legal, eu estava começando a perder o equilíbrio só de
ficar parado lá.
Estiquei
minha perna como se fosse dar um passo, congelei na hora. Pensar e falar é
fácil, fazer é outra história. Afinal, quem em sã consciência iria pular do
topo de um prédio para tentar desfazer a morte do seu melhor amigo sem ter
certeza se isso vai realmente funcionar.
Parando
para pensar nisso, será que aquilo só funciona se alguém me matar? Se for isso,
estou ferrado, pulando para a morte na certa. Bom, seja como for, espero que eu
volte no tempo. Pensado nisso, dei um passo a frente e cai do terraço de olhos
fechados, pude ouvir as garotas gritarem, mas logo tudo ficou em silêncio.
Senti
meu corpo parar de cair e começar a flutuar, ao abrir meus olhos a escuridão
ainda predominava, mal conseguia ver um palmo na frente do meu rosto, não havia
barulho algum, apenas minha respiração e meu coração batendo forte.
- Tem
alguém ai? – Perguntei para o vazio.
Como
resposta a minha pergunta senti uma dor inesperada no rosto, como se tivesse
levado um tapa. Fiquei chocado por um momento e logo em seguida levei outro
tapa.
- O que
é isso? Tapas?
Mais um
tapa.
- Por
que estou levando tapas?
O
silêncio me respondeu, um ponto branco surgiu distante, olhei de forma curiosa
para ele então o ponto começou a crescer até que o lugar ficou totalmente
branco, quando meus olhos começaram a voltar ao normal percebi que estava na
sala de aula.
- Ok,
isso foi estranho. – Falei baixinho.
- O que
foi estranho? – Perguntou Masaomi.
Olhei
para meu amigo, que sorria, meus olhos começaram a lacrimejar o que assustou
ele.
- Ei,
você está bem?
- Sim,
estou.
- Então
por que está chorando?
- É o
sono, sabe quando se boceja tanto que começa a lacrimejar? Então, é tipo isso.
- Sei.
- De
qualquer forma, não estou a fim de ir para a aula de educação física, poderia
avisar ao professor que eu não estou bem?
- Eu
sabia que você não estava bem, vamos, vou te acompanhar até a enfermagem.
- Não
precisa, posso ir sozinho. Ah, antes que eu esqueça, avise o professor que a
placa da quadra está quebrada.
-
Quebrada? Como assim?
- Quando
você chegar lá, verá.
Logo
após eu ter comentado essas coisas a porta da sala se abriu e o professor de
Educação Física entrou.
- Muito
bem pessoal, hoje vamos ter aula na quadra coberta, meninos vão para a sala
três se trocar, meninas se troquem aqui. Vamos ter aula em conjunto com a turma
três então se comportem.
- Minha
deixa, até mais tarde. – Me levantei e sai apressado.
Masaomi
ia tentar me chamar, mas foi interrompido pelo professor que pedia aos garotos
irem se trocar logo enquanto as garotas de outra sala entravam.
Fui até
o terraço ficar deitado, esperando a aula terminar. O dia estava limpo, céu
claro e algumas nuvens, a brisa era refrescante, fechei meus olhos e dormi.
- Ele
deve estar aqui em cima. Ah, olha ele ali e está dormindo, incrível.
Senti
algo me cutucando, quase como se fosse um chute.
- Vamos,
está na hora de ir embora. Não acredito que você dormiu a tarde toda.
- Foi?
Bem, nem percebi.
- É
claro, estava dormindo.
- Para
de pegar no pé dele, Masaomi. – Defendeu Anzu.
- Não o
defenda, é muita folga dormir e não assistir as aulas da tarde.
- Ele
está cansado, diferente de você que tem muita energia. Nem sei de onde você
tira tanta energia. – Comentou Hikari.
- É
impressão minha ou as duas estão contra mim?
- É só
impressão sua. – Falaram em uníssono e sorriram.
- Certo,
chega dessa barulheira, vamos embora? – Me levantei e bati em minhas costas
para limpar.
Eles
sorriram e voltamos para a sala para pegar nosso material e então saímos do
colégio.
No meio
do caminho em direção a estação de metrô, Masaomi para.
- Ei, vocês
têm algo para fazer agora de noite?
As
meninas se olharam.
- Eu
não. – Respondeu Hikari.
- Nem
eu. – Disse Anzu.
- Eu
tenho. – Respondi.
- Tem é?
O que? – Perguntou Wellignton em um tom de irônico.
-
Dormir.
- Mais?
- É,
estou com muito sono, não sei por que.
- Ah,
qual é? Vamos, quero ir no fliperama.
A
palavra “fliperama” me fez lembrar do que passei outra hora, ou outro dia, não
sei ao certo, pelo visto o dia estava seguindo o mesmo rumo que aquele em que
morro no fliperama, vamos mudar isso.
-
Fliperama não.
- Por
que não?
- Porque
não horas.
- Onde
então?
Fiquei
pensativo, um lugar que seja ao mesmo tempo cheio e com privacidade... o
cinema!
- Que
tal um cinema?
-
Cinema? – Perguntou Hikari.
- Hum,
parece legal. – Aceitou Masaomi. – Vamos?
Como é
fácil mudar a opinião dele.
- E o
que vamos assistir?
- O que
tiver em cartaz, escolheremos na hora, mais divertido assim.
Após pensarem
um pouco, as meninas concordam. Seguimos então para o shopping mais perto, por
sorte havia um filme interessante em cartaz então a votação foi unanime. Como
era no meio da semana, o que foi um erro nos meus cálculos, o lugar estava
quase vazio e conseguimos pegar lugares bem no meio da sala. Eu havia sugerido
para sentar em uma ponta ao lado dele, mas Masaomi insistiu para que sentássemos
de forma intercalada, então acabou que nos sentamos conforme ele havia pedido,
ele na ponta, seguido da Anzu, eu e Hikari.
Durante
o filme, cruzei as pernas, apoiei meus braços nos descansos de braços e me
concentrei no filme. Comecei a sentir minhas mãos ficarem quentes, alguém havia
apoiado as mãos nas minhas, olhei para os dois lados e me surpreendi, Hikari e Anzu
estavam segurando minhas mãos, cada uma de um lado.
Certo,
fiquei envergonhado e ao mesmo tempo confuso, as duas ao mesmo tempo? Está
certo que eu imaginava que elas sentiam algo, apesar que apenas isso não
significa na... meus pensamentos foram interrompidos quando Hikari tirou sua
mão de cima da minha e puxou meu rosto para seu lado para logo em seguida me
dar um beijo.
- Isso
fica entre nós. – Cochichou a garota que logo voltou a sua atenção para o
filme.
Fiquei
olhando para ela, confuso e em choque, sem entender nada e o filme passando.
- Ei, o
que você está fazendo? – Perguntou Anzu me tirando do transe da dúvida.
- Ãn,
nada? – Me virei para encarar a jovem.
Quando
virei meu rosto, me surpreendi com o quão próximo ela estava de mim, estávamos tão
próximos que quase nos beijamos.
-
D-desculpa. – Virei meu rosto para frente rapidamente.
- Não
precisa se desculpar. E se você quiser se desculpar então olhe para mim, olhe
em meus olhos.
Lentamente
me virei e encarei os olhos negros como o carvão, mas tão brilhantes que
pareciam feitos de vidro, encara-los por muito tempo me deixavam hipnotizados e
aos poucos me aproximei dela até beija-la. Pressionei meus lábios contra os
dela, uma sensação macia e quente passou por minha boca e então nos afastamos
tão rápido quanto nos aproximamos.
- Você
podia se desculpar mais vezes. – Caçoou a garota.
Apenas
consegui sorrir, pensando no que acaba de acontecer e pelo que já passei, eu
tinha quase certeza que o dia não acabaria bem. Espero que eu sobreviva até o
fim do dia.
Continua.
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