Boa leitura.
CONVERSA
- Com
licença, tem alguém sentado aqui? – Perguntei ao garoto, indicando a cadeira a
sua frente.
- Não. –
Respondeu ele e logo em seguida voltou a ler seu livro.
- Posso me
sentar?
O garoto me
olhou e fez um sinal positivo com a cabeça então me sentei.
A cafeteria
estava cheia, todos os lugares estavam ocupados, exceto o lugar onde acabei de
me sentar. O garoto parecia bem concentrado na sua leitura, pudera, ele estava
lendo um ótimo livro, o meu favorito.
Fiquei
encarando o livro por um tempo e acho que o garoto percebeu pois ele se virou,
ficando de lado, em uma posição que ficava difícil ver a capa. Olhei para ele e
ele me observava, na hora fiquei envergonhada e vermelha.
- Desculpe. –
Me virei e voltei a tomar meu cappuccino.
Apesar de
envergonhada, continuei olhando para o garoto e para o livro. Ele era um garoto
peculiar, vestia uma camisa azul larga, bermuda marrom, meias curtas cinzas e tênis
azul escuro. Tinha o cabelo liso e penteado para a esquerda, assim como uma
mecha cumprida saindo de sua nuca, usava também óculos de armação grossa e
preta e sua boca ficava aberta enquanto lia.
Subitamente
o garoto fechou o livro, o que me pegou de surpresa, então olhei para ele e ele
me observava, rapidamente desviei o olhar, fingindo que estava distraída.
- Ei, por
que você fica olhando tanto para meu livro? Por acaso quer rouba-lo? –
Perguntou o garoto.
- Roubar seu
livro? Não, jamais, desculpe. É que eu já li esse livro, é meu favorito.
- Favorito,
é? – O garoto ficou me olhando, pensativo.
- O que foi?
Acha que é mentira? O Otávio morre no final.
Acho que
falei demais pois a expressão do garoto mudou de concentrado para surpreso,
então voltou a ficar pensativo, balançou a cabeça de forma positiva e abriu um
sorriso.
- Gostei
desse spoiler. É, você realmente leu
os livros.
- Ah,
desculpa pelo spoiler! Foi sem
querer.
- Não se
preocupe com isso, como eu disse, esse spoiler
foi algo bom, apesar que eu cheguei a imaginar algo assim, mas não pensei que o
autor iria realmente mata-lo.
- É verdade,
eu também fiquei surpresa com o acontecido, mas também esperava que ele
morresse.
- Como você
é malvada. – O garoto tentou segurar uma risada, mas não sei porque achei isso
fofo.
- Se sou
malvada, você também é, por querer que o Otávio morresse. – Cruzei os braços e
fiz bico, para fingir que estava brava. Não deu muito certo pois o garoto
começou a rir.
- Desculpe
por isso, só estava tirando sarro de você. Desculpe. E você ficou muito fofa se
fingindo de brava.
Novamente
fiquei vermelha, o que fez minhas sardas se destacarem mais. Sim, eu tenho
sardas no rosto, algo contra?
- Do que
você está falando? Não estou fingindo, pare de zoar comigo!
- Vamos, se
acalme. Não precisa ficar tão exaltada assim. Desculpe por isso. – Disse o
garoto, rindo um pouco. – Qual seu nome?
- Por que
você quer saber? – Esse garoto começou a me irritar.
- Por que
fiquei curioso, não é todo dia que uma garota bonita vem falar comigo e que
goste do mesmo livro que eu.
- Bonita?
Ainda está zoando comigo?
- Não, estou
sendo sincero. – Sua expressão era séria, acho que ele não estava me zoando.
- Rachel.
- Rachel?
Sério? Igual à da personagem do livro?
- Sim,
também fiquei surpresa de ver essa semelhança.
-
Semelhança? Você é a personagem encarnada. Ruiva, olhos verdes e esse jeito
decidido. Vai me dizer que você cita profecias também?
- Não,
infelizmente não. Mas minhas semelhanças com a personagem param por ai,
cabelos, olhos e nome.
- Ruuun. –
Por que ele fica me encarando? Isso me deixa desconfortada.
- Por que
você está me encarando?
- Como eu
disse, acho você muito bonita. – Então ele sorriu pelo canto da boca.
Definitivamente
ele está dando em cima de mim. Não sei se fico incomodada ou se aprecio sua
tentativa, difícil escolha.
- Você é
cego, por acaso?
O garoto riu
e apontou para seus óculos.
- Um pouco. –
Sorriu ele.
Meu, o que
há comigo? Esse sorriso dele foi encantador, eu nem o conheço e ele nem é
bonito! O que houve comigo? Ele deve ser algum mago ou feiticeiro, sei lá, asiáticos
sempre surpreendem os outros.
- Você
acabou de pensar que eu posso estar usando alguma magia ou algo do tipo, né?
- Como você
sabe? Você está lendo minha mente? – Me afastei e coloquei minhas mãos para a
frente tentando impedir que ele me visse.
- Não, mas
como estamos falando de um livro onde a magia existe, então supus que você
pensaria algo assim.
- Seu
monstro. – Sorri e comecei a dar risada, não sei por que, mas me sinto à
vontade conversando com ele.
- Quais
outros livros você gosta? Provavelmente livros que tenham magia ou alguma
revolta com adolescentes.
- Com
você...
- Eu também
gosto de livros assim, creio que tenhamos os mesmos gostos para autores, ou
mesmo por gêneros. Você viu o novo livro do Rick? Parece que a personagem
principal é primo de alguém da série anterior.
- Ah, eu
soube. Vai ser um livro interessante.
- Não é? Estou
com ele aqui na minha bolsa, pois estou quase acabando esse livro. Mal posso
esperar para começar a ler ele.
- Posso ver
o livro?
- Claro, um
minuto. – O garoto começou a mexer em sua bolsa e tirou o livro.
O livro
tinha uma capa espetacular, no topo havia o nome do livro escrito com letras cursivas,
no meio havia um garoto segurando uma espada dourada, da mesma cor que seus
cabelos e logo abaixo um lobo azul tão grande quanto um urso pardo. Simplesmente divino.
Peguei o livro em minhas mãos e senti a textura
de livro novo, folheei e senti o cheiro de novo, extremamente viciante. Tive
que me segurar para não correr com o livro em minhas mãos.
- Ok, não
gostei da sua expressão, devolva meu livro, por favor.
Realmente,
minha expressão me entregava. Olhei para ele e devolvi seu livro, excitante.
- Desculpe
por isso, mas esse livro é muito bonito. Preciso compra-lo.
- Na
livraria daqui tem, e o preço está bem acessível. – O garoto então olhou para
seu celular. – Preciso ir, minha sessão vai começar logo. – Dito isso, ele se
levantou e olhou para mim. – Bom, vou indo. Até um dia. – Ele sorriu para mim,
o que me deixou novamente envergonhada.
O garoto
começou a andar em direção as escadas rolantes que ficavam do outro lado do
shopping, será que o encontrarei novamente? De repente ele se vira para mim e
volta quase correndo.
- Pode me
dar seu número de celular? – Então ele sorriu.
Fim.
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