sexta-feira, 24 de junho de 2016

CONVERSA

Hoje trago uma pequena conversa entre dois estranhos em um shopping, espero que gostem.

Boa leitura.

CONVERSA

- Com licença, tem alguém sentado aqui? – Perguntei ao garoto, indicando a cadeira a sua frente.
- Não. – Respondeu ele e logo em seguida voltou a ler seu livro.
- Posso me sentar?
O garoto me olhou e fez um sinal positivo com a cabeça então me sentei.
A cafeteria estava cheia, todos os lugares estavam ocupados, exceto o lugar onde acabei de me sentar. O garoto parecia bem concentrado na sua leitura, pudera, ele estava lendo um ótimo livro, o meu favorito.
Fiquei encarando o livro por um tempo e acho que o garoto percebeu pois ele se virou, ficando de lado, em uma posição que ficava difícil ver a capa. Olhei para ele e ele me observava, na hora fiquei envergonhada e vermelha.
- Desculpe. – Me virei e voltei a tomar meu cappuccino.
Apesar de envergonhada, continuei olhando para o garoto e para o livro. Ele era um garoto peculiar, vestia uma camisa azul larga, bermuda marrom, meias curtas cinzas e tênis azul escuro. Tinha o cabelo liso e penteado para a esquerda, assim como uma mecha cumprida saindo de sua nuca, usava também óculos de armação grossa e preta e sua boca ficava aberta enquanto lia.
Subitamente o garoto fechou o livro, o que me pegou de surpresa, então olhei para ele e ele me observava, rapidamente desviei o olhar, fingindo que estava distraída.
- Ei, por que você fica olhando tanto para meu livro? Por acaso quer rouba-lo? – Perguntou o garoto.
- Roubar seu livro? Não, jamais, desculpe. É que eu já li esse livro, é meu favorito.
- Favorito, é? – O garoto ficou me olhando, pensativo.
- O que foi? Acha que é mentira? O Otávio morre no final.
Acho que falei demais pois a expressão do garoto mudou de concentrado para surpreso, então voltou a ficar pensativo, balançou a cabeça de forma positiva e abriu um sorriso.
- Gostei desse spoiler. É, você realmente leu os livros.
- Ah, desculpa pelo spoiler! Foi sem querer.
- Não se preocupe com isso, como eu disse, esse spoiler foi algo bom, apesar que eu cheguei a imaginar algo assim, mas não pensei que o autor iria realmente mata-lo.
- É verdade, eu também fiquei surpresa com o acontecido, mas também esperava que ele morresse.
- Como você é malvada. – O garoto tentou segurar uma risada, mas não sei porque achei isso fofo.
- Se sou malvada, você também é, por querer que o Otávio morresse. – Cruzei os braços e fiz bico, para fingir que estava brava. Não deu muito certo pois o garoto começou a rir.
- Desculpe por isso, só estava tirando sarro de você. Desculpe. E você ficou muito fofa se fingindo de brava.
Novamente fiquei vermelha, o que fez minhas sardas se destacarem mais. Sim, eu tenho sardas no rosto, algo contra?
- Do que você está falando? Não estou fingindo, pare de zoar comigo!
- Vamos, se acalme. Não precisa ficar tão exaltada assim. Desculpe por isso. – Disse o garoto, rindo um pouco. – Qual seu nome?
- Por que você quer saber? – Esse garoto começou a me irritar.
- Por que fiquei curioso, não é todo dia que uma garota bonita vem falar comigo e que goste do mesmo livro que eu.
- Bonita? Ainda está zoando comigo?
- Não, estou sendo sincero. – Sua expressão era séria, acho que ele não estava me zoando.
- Rachel.
- Rachel? Sério? Igual à da personagem do livro?
- Sim, também fiquei surpresa de ver essa semelhança.
- Semelhança? Você é a personagem encarnada. Ruiva, olhos verdes e esse jeito decidido. Vai me dizer que você cita profecias também?
- Não, infelizmente não. Mas minhas semelhanças com a personagem param por ai, cabelos, olhos e nome.
- Ruuun. – Por que ele fica me encarando? Isso me deixa desconfortada.
- Por que você está me encarando?
- Como eu disse, acho você muito bonita. – Então ele sorriu pelo canto da boca.
Definitivamente ele está dando em cima de mim. Não sei se fico incomodada ou se aprecio sua tentativa, difícil escolha.
- Você é cego, por acaso?
O garoto riu e apontou para seus óculos.
- Um pouco. – Sorriu ele.
Meu, o que há comigo? Esse sorriso dele foi encantador, eu nem o conheço e ele nem é bonito! O que houve comigo? Ele deve ser algum mago ou feiticeiro, sei lá, asiáticos sempre surpreendem os outros.
- Você acabou de pensar que eu posso estar usando alguma magia ou algo do tipo, né?
- Como você sabe? Você está lendo minha mente? – Me afastei e coloquei minhas mãos para a frente tentando impedir que ele me visse.
- Não, mas como estamos falando de um livro onde a magia existe, então supus que você pensaria algo assim.
- Seu monstro. – Sorri e comecei a dar risada, não sei por que, mas me sinto à vontade conversando com ele.
- Quais outros livros você gosta? Provavelmente livros que tenham magia ou alguma revolta com adolescentes.
- Com você...
- Eu também gosto de livros assim, creio que tenhamos os mesmos gostos para autores, ou mesmo por gêneros. Você viu o novo livro do Rick? Parece que a personagem principal é primo de alguém da série anterior.
- Ah, eu soube. Vai ser um livro interessante.
- Não é? Estou com ele aqui na minha bolsa, pois estou quase acabando esse livro. Mal posso esperar para começar a ler ele.
- Posso ver o livro?
- Claro, um minuto. – O garoto começou a mexer em sua bolsa e tirou o livro.
O livro tinha uma capa espetacular, no topo havia o nome do livro escrito com letras cursivas, no meio havia um garoto segurando uma espada dourada, da mesma cor que seus cabelos e logo abaixo um lobo azul tão grande quanto um urso pardo.  Simplesmente divino.
 Peguei o livro em minhas mãos e senti a textura de livro novo, folheei e senti o cheiro de novo, extremamente viciante. Tive que me segurar para não correr com o livro em minhas mãos.
- Ok, não gostei da sua expressão, devolva meu livro, por favor.
Realmente, minha expressão me entregava. Olhei para ele e devolvi seu livro, excitante.
- Desculpe por isso, mas esse livro é muito bonito. Preciso compra-lo.
- Na livraria daqui tem, e o preço está bem acessível. – O garoto então olhou para seu celular. – Preciso ir, minha sessão vai começar logo. – Dito isso, ele se levantou e olhou para mim. – Bom, vou indo. Até um dia. – Ele sorriu para mim, o que me deixou novamente envergonhada.
O garoto começou a andar em direção as escadas rolantes que ficavam do outro lado do shopping, será que o encontrarei novamente? De repente ele se vira para mim e volta quase correndo.
- Pode me dar seu número de celular? – Então ele sorriu.

Fim.

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