sexta-feira, 11 de março de 2016

FIM DE SEMANA – Parte 2 – Final.

Parte final da história "FIM DE SEMANA".

Espero que gostem.

Boa leitura.


FIM DE SEMANA

Recebemos uma mensagem dizendo que podíamos começar nosso teste de coragem, olhei para a garota ao meu lado e me deparo com um olhar determinado e um sorriso no rosto da garota, esse teste será interessante.
- Vamos, então?
Com um acendo de cabeça, seguimos em frente. O percurso era simples, havia uma velha floresta atrás do templo e uma trilha seguia por entre as árvores, o objetivo era percorrer a trilha e chegar até o final, simples, não?
Mas para chegarmos a trilha, tínhamos que passar por dentro do templo, que era aberto ao público, mas como ele era um templo velho, quase ninguém ia visitar e o local estava praticamente abandonado. Entramos no primeiro prédio, dentro do lugar era escuro, mas a lua iluminava o suficiente para conseguirmos ver o caminho.
O piso do prédio era de madeira, então a cada passo que dávamos o piso rangia, e a acústica do lugar só deixava o rangido soar mais fantasmagórico, o vento soprava pelas janelas e davam a impressão que alguém falava “uuuuuuu” em um sussurro incomodo.
Iris olhava de forma determinada para frente, mas sempre que um rangido ou um vento soprava mais alto, ela se agarrava no meu braço, fechava os olhos e parava no lugar. De certa forma, isso me deixava feliz, uma garota depender de mim quando está com medo era algo que me deixava mais confiante, afinal não é todo dia que uma garota depende de um garoto.
- Hatori... é seu nome, certo? – Perguntou Iris ainda com os olhos fechados.
- Sim, é uma surpresa que você tenha lembrado de meu nome. – Respondi impressionado.
- Como assim? – A garota abriu os olhos e me olhou curiosa.
- Geralmente eu não chamo atenção, então as pessoas costumam esquecer meu nome, e ele já é diferente então...
- Eu não esqueceria seu nome, ainda mais por ser diferente.
Ok, isso me pegou de surpresa, fiquei um pouco confuso quando ela disse isso, mas logo me recuperei.
- Bem, temos que ir por aqui. – Apontei para um corredor escuro e cheio de teias de aranhas.
- Certeza? – Perguntou a garota com a voz tremula.
- Infelizmente, sim. Veja o mapa. – Então mostrei a ela o mapa no meu celular, um desenho improvisado que Gustavo havia feito e tirado foto. Um garrancho.
- Como você sabe que é por aqui?
- Porque eu sei ler códigos.
Nós nos olhamos por alguns segundos e então começamos a rir.
- Como você é mal, falando que o desenho do seu amigo é feio.
- Mas é feio, você consegue entender algo desse mapa?
- É. Você realmente sabe ler códigos. – Disse a garota após analisar o desenho por alguns segundos.
Sorri para a garota e voltamos a andar, andamos por alguns metros e então um barulho de algo caindo veio de trás da gente, olhamos rapidamente para trás, mas nada víamos.
- O que foi esse som? – Perguntou Iris, tremula.
- Espero que tenha sido o vento derrubando algo. Mas também pode ter sido o André ou alguém que tenha caído. Melhor irmos verificar.
- Sara.
- Calma, não pense no pior. Vamos andar devagar, assim não seremos pegos desprevenidos.
Voltamos pelo caminho que havíamos percorrido até a origem do som. O som vinha de uma sala fechada com algumas padeiras bloqueando a passagem, olhei para a Iris e ela me olhava preocupada então comecei a tirar as madeiras para podermos entrar na sala. Foi até que fácil retirar as madeiras, elas estavam podres e soltavam-se com facilidade, mas a porta estava trancada. Forcei um pouco a porta e ela cedeu, abrindo com um rangido.
Entramos na sala e ela estava iluminada pelo luar, o que deixava o lugar muito bonito. Do outro lado da sala havia um pequeno altar, na parede desse altar haviam algumas espadas japonesas, logo acima do altar, um letreiro com escritas japonesas, dos lados haviam algumas estátuas de monges meditando com a mão para cima como se fizesse um juramento. Faixas de luzes brancas vindas da lua iluminavam o lugar, intercalando entre as estátuas.
- Que lugar bonito. – Comentou Iris.
- É, por que será que as pessoas não vêm mais aqui?
- Deve ter algum motivo bem sério para as pessoas não virem mais aqui. Talvez esse templo esteja em más condições?
- Não encontramos nenhum buraco, acho que alguém anda fazendo a manutenção daqui. O templo só parece abandonado mesmo.
Iris começou a andar até o outro lado da sala, cada vez que ela dava um passo, um som oco podia ser ouvido. O ranger das madeiras ficavam mais alto, o vento soprava mais forte e então a luz da lua sumiu e a sala ficou completamente escura. Saquei meu celular e liguei a lanterna, olhei em volta procurando a garota, mas não a encontrei, ela havia sumido.
- Iris? Vamos, pare de brincadeira. Vamos continuar logo esse teste de coragem. Iris!
Apenas o silêncio me respondeu, o vento voltou a soprar do lado de fora e o piso começou a ranger novamente então a luz da lua voltou e a garota surgiu na minha frente.
- Hatori?
- Ah! – Pulei para trás de susto. – O- Onde você estava? – Perguntei enquanto olhava ao redor.
- Eu é que te pergunto, você havia sumido do nada e me deixou sozinha no escuro. Muita sacanagem isso. – Iris cruzou os braços e fez cara de chateada.
- Vamos sair daqui, não estou gostando desse lugar. – Peguei na mão de Iris e comecei a puxa-la.
A garota me seguiu sem perguntar nada. Saímos da sala e seguimos pelo corredor, em pouco tempo havíamos saído do templo pelos fundos, dando de cara com uma trilha que ia mais a fundo na floresta. A floresta era densa, cheia de árvores próximas umas das outras, a luz da lua mal passava pelas folhas da copa das árvores, um som de folhas farfalhando era constante, assim como som de grilos.
- Temos que seguir por aqui mesmo? – Perguntei.
- Acho que sim, não vejo outro caminho. – Iris soava preocupada.
- Droga, e eu só queria ficar descansando no meu quarto. Vamos acabar logo com isso. Fique perto de mim, não sei que tipo de inseto vive nessa floresta.
- Você acha que tem cobra por aqui?
- Muito improvável, mas não impossível. Fique com os ouvidos atentos.
- Ok.
Começamos a caminhar pela trilha e a ir mais a fundo na floresta. Até que a trilha era tranquila, sem muitos obstáculos e bem marcada. Então ouvimos algo se mexendo no meio dos arbustos, algo correndo. Paramos na hora e ficamos ouvindo, tentando determinar de que direção vinha o som. Um gemido baixo um pouco atrás de nós começou a se aproximar, o som de algo sendo arrastado ficava mais alto, olhamos para trás e esperamos a coisa aparecer.
Então, como se tivesse saído de um filme classe C de terror, duas pessoas surgem das sombras, o da frente, um homem, estava com o cabelo todo bagunçado, sua pele estava em uma tonalidade verde, seus olhos eram brancos, sua boca estava torta e ele babava, suas roupas estavam rasgadas e ele mancava. Logo atrás desse ser vinha uma mulher com o cabelo todo desgrenhado, ao que parecia ela tinha um buraco no lugar de um dos olhos, sua boca estava sem pele, com os dentes a mostra, roupas rasgadas e ela andava arrastando uma das pernas.
De início, ficamos em choque com a cena, mas logo nossos instintos superaram o choque e começamos a correr, apesar de não parecerem grande coisa, na hora H a adrenalina sobe e os nossos mais profundos anseios vem à tona. Corremos na direção oposta dos monstros, corremos até eles sumirem de vista e não ouvirmos mais seus sons de rastejo.
Estávamos recuperando o fôlego quando Iris ficou atônita, percebi sua reação e achei estranho.
- O que houve?
- U-um vulto... – Respondeu ela, apontando para minhas costas. Me virei e nada vi.
- Não há nada atrás de ...
Parei de falar na metade pois atrás da garota, uma mulher flutuava na altura dos ombros de Iris, ela era totalmente branca, usava um vestido branco com rendas, seus cabelos eram brancos e ficavam flutuando no ar como se estivesse de baixo d’água. Seus olhos eram negros e ela não tinha uma expressão de muitos amigos.
- Por que você parou de falar? – Perguntou a garota, receosa com a resposta.
Eu consegui apontar para a mulher que levitava logo atrás de Iris e ela havia entendido o recado.
- Droga. – Disse ela antes de começar a correr.
Para uma pessoa baixa, Iris corria muito rápido. Ela havia agarrado minha mão e me puxado para uma longa corrida. Enquanto Iris guiava nosso caminho, eu me virava para ver se alguma das criaturas estavam seguindo a gente, por sorte eles pareciam ter ficado para trás.
- Ei, acho que já abrimos uma boa distância. Acho que podemos descansar um pouco. – Comentei, sem fôlego.
- É verdade. Acho que podemos parar um pouco. – Iris se sentou na raiz de uma árvore. – Mas o que diabos era aquilo?
- Zumbis e fantasma?
- Isso eu sei, mas pensei que essas coisas não existissem de verdade.
- Mas existem. Bom, não igual aos filmes. – Me sentei ao lado da garota e fiquei olhando fixamente a árvore do outro lado enquanto pensava.
- No que está pensando?
Me virei para a garota e me deparei com ela me olhando fixamente. Cara, como ela é linda, seus olhos verdes me encarando só me deixavam nervoso. Ela tinha uma expressão de curiosidade, o que deixava ela fofa.
- Nada em particular. – Respondi de forma desajeitada. – Vamos?
- Hum. Ok.
Voltamos a andar pela trilha até chegarmos em uma clareira. A clareira era iluminada diretamente pela lua, um lugar sem árvores e sem copas para atrapalhar a lua. No centro havia um livro em cima de um pequeno pilar de pedra. Nos aproximamos e ao chegar no centro, um barulho veio do meio da floresta, os monstros reapareceram, os dois zumbis e a fantasmas e eles trouxeram amigos, uma mulher com a boca cortada e olhos totalmente pretos, carregava uma faca, um casal que aparentavam serem normais, mas logo um par de asas pretas se abriu nas costas do casal, do outro lado um homem apareceu segurando uma cabeça nos braços, suponho que seja a cabeça dele. E no último canto por onde poderíamos fugir, um monge apareceu, um monge sem olhos e com a boca costurada, segurando seu cajado em uma mão e a outra posta na frente como se rezasse.
- Estamos cercados. – Comentei.
- Sério? Eu não tinha percebido isso. – Ironizou a garota.
- Bom, posso ser a isca para segurar alguns deles e você pode fugir.
- Mas que sugestão fraca. Não tem como pensar em um modo de nós dois sairmos daqui?
- Não me vem nada a mente, então se tiver uma ideia melhor, estou ouvindo.
- Que tal eu ser a isca?
- Muita coragem de sua parte, mas prefiro que você fuja daqui do que virar isca.
- E eu não quero deixar você aqui. – Iris pegou minha mão.
Trocamos olhares, sorrimos um para o outro.
- Então é aqui que termina nossa história? – Perguntei.
- Pelo visto, sim.
- Bom, então não quero deixar arrependimentos para trás. – Dito isso, me aproximei da garota e a beijei. Ela não me afastou, então o sentimento foi reciproco, o que me deixou bem feliz.
- Até que enfim! – Gritou alguém.
- Finalmente eles fizeram isso, pelo amor de Deus. – Comemorou outra pessoa.
Paramos de nos beijar e olhamos em volta, os monstros estavam nos olhando com um sorriso. Um dos zumbis se aproximou e tirou o rosto, ou melhor, a máscara, era André.
- Finalmente algo aconteceu com vocês dois.
O outro zumbi se aproximou e também retirou a máscara, Sara.
- Eu disse que eles se dariam bem.
- É verdade. – Respondeu o monge, que após limpar a maquiagem na roupa, Gustavo surgiu.
- Eu não queria ter participado disso, por mim eles não deveriam ficar juntos. – Protestou a fantasma. – E alguém em ajude aqui, por favor?
O homem sem cabeça foi na direção da fantasma e a ajudou a descer, ela estava presa por cordas bem finas e transparentes, o homem sem cabeça começou a tirar a blusa e se revelou sendo Franklin.
- Obrigada.
- De nada.
- Espera, Jack? – Perguntou Iris para a fantasma.
- Sim, eu mesma.
- Então, aquela é a Cátia? – Iris apontou para a mulher com faca.
- Exato. – Cátia limpou a maquiagem.
- E quem são aqueles dois? – Perguntei, apontando para onde havia o casal com asas.
- Que dois? – Perguntou André.
O casal não estava mais lá, sumiram como se fossem fantasmas.
- Havia um casal daquele lado que tinham asas negras. Pensei que era um casal de Tengu. Sabe, o demônio com asas pretas.
- Não tem nenhum casal ali e não pedimos para ninguém vir ajudar. – Comentou Gustavo.
- Então quem eram eles?
- Eu sei lá, acho que você ficou com tanto medo que começou a alucinar. – Franklin começou a rir.
- Isso não é verdade, eu juro que vi o casal. Você também os viu, né Iris?
- Vi, mas acho que estávamos alucinando. – Respondeu a garota.
- Não, não pode ser. Juro que havia um casal ali.
- Vamos voltar para a pousada, acho que você está bem cansado. – Comentou Sara.
- E aquela hora no templo? Como vocês fizeram aquilo?
- Aquilo o que? – Perguntou Gustavo.
- Fizeram a Iris sumir por um instante.
- É verdade, o Hatori sumiu por um instante. Como vocês fizeram isso? – Perguntou Iris.
O grupo se olhou e então olharam preocupados para mim e para Iris.
- Vamos voltar. Vocês precisam dormir. – Sugeriu Cátia.
Eu olhei para Iris e ela olhou para mim então resolvemos não comentar mais nada, voltamos para a pousada com nossos amigos. Mas aqueles acontecimentos continuaram em nossas mentes.

Fim.

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