sexta-feira, 25 de março de 2016

CAÇA AO TESOURO

Hoje trago uma história sobre uma pequena aventura e uma grande revelação.

Espero que gostem da história.

Boa leitura!


CAÇA AO TESOURO

Olá, eu me chamo Liza e tenho doze anos. Todo ano, na páscoa, eu viajava com meus pais para a casa do vovô. Ele morava longe da cidade, mamãe fala que é porque ele estava cansado da correria da cidade. O vovô é pai da minha mãe, e ela não tem irmãs ou irmãos, assim como eu, e isso me deixa feliz porque não tinha que dividir os chocolates do vovô com ninguém.
Ele, o vovô, costuma esconder muitos chocolates na casa dele e ele fazia tipo uma caçada ao tesouro, deixando pistas e pistas de onde o chocolate pode ou poderia estar e eu saia a procura dele, era muito divertido brincar de caça ao tesouro com o vovô.
Aquele ano não podia ser diferente. Como de costume, mamãe me acordou cedo para irmos para a casa do vovô, então me levantei bem rápido e me arrumei, afinal, tenho que ficar bonita para ver o vovô. Mamãe me ajudou a escolher as roupas enquanto papai arrumava as coisas no carro, tive que lembrar ele de colocar alguns jogos para jogar no caminho até a casa do vovô porque demora muito para chegar lá.
Eu tive um sonho estranho naquele dia, sonhei com o vovô, mas ele estava todo de branco e sorria para mim, então ele acenou e foi embora. Contei o sonho para a mamãe e ela apenas me abraçou, apesar de eu gostar muito do abraço da mamãe, esse abraço foi estranho e ao mesmo tempo aconchegante então decidi não pensar mais nisso.
Como eu havia dito, a viagem até a casa do vovô era longa e cansativa, e também muito chata, pedi para o papai para levar algum jogo, mas acabei dormindo. Não pude evitar, não conseguia dormir no dia anterior e acordei cedo naquele dia e ficar parada no carro por muito tempo me deu sono, mas pelo menos a viagem foi rápida desse jeito.
Chegamos na casa do vovô, ele morava no campo, do lado da casa havia um celeiro e em frente a sua casa haviam diversas plantas, vovô tentou me ensinar sobre as plantas que ele tem, mas nunca fui fã disso então não aprendi nada, pensando agora, acho que eu devia ter aprendido algo com ele.
Sai do carro apressada e fui direto para a casa ver o vovô, ele não estava na sala, sentado na poltrona em que costuma estar sentado, vovó estava na cozinha, sentada enquanto tomava chá, perguntei a ela onde o vovô estava e ela sorriu com carinho para mim, quase como se dissesse que estava tudo bem, então sorri de volta e fui procurar o vovô no andar de cima.
A casa do vovô tinha dois andares, no primeiro andar, que era por onde entravamos, ficava a sala e a cozinha e no segundo andar tinham dois quartos e um banheiro entre os quartos. Procurei no quarto logo de frente com a escada, ele não estava lá, procurei no armário, debaixo da cama e nada, fui para o banheiro e ele também não estava lá, então fui para o outro quarto com a certeza que o encontraria, mas me enganei, ele também não estava no outro quarto.
Desci e fui até a cozinha, onde a vovó estava arrumando a mesa para almoçarmos, meus pais já tinham entrado na casa e haviam levado as malas para dentro e estavam ajudando ela, colocando os pratos e talheres na mesa, me sentei ao lado da ponta, onde o vovô costumava se sentar, naquele dia o vovô não almoçou com a gente.
Depois do almoço, perguntei novamente para a vovó onde o vovô estava, ela pediu para eu esperar um pouco e então se levantou e foi até o quarto no segundo andar, como ela era bem velhinha, demorou um pouco até que voltasse, mas quando voltou, trazia consigo uma carta.
A carta dizia:

“Olá minha pequena coelhinha,
Como você está? Espero que esteja bem, pois esse ano a caça ao tesouro será diferente, dessa vez não irei te acompanhar pois eu estarei escondido junto com o tesouro.
Preparada? Então vamos começar:
1ª charada– De dia tem quatro e de noite tem seis, o que eu sou?
Ache a resposta da charada e você achará a próxima, boa sorte.
Com amor, vovô.”

Após ler a carta, olhei para a vovó, que sorria gentilmente para mim, então olhei para meus pais e eles me incentivavam a pensar, a descobrir a resposta para a charada. Lembrei que o vovô vivia dizendo que a noite, uma certa mobília da casa ganhar um par de pernas a mais, na hora eu falei da poltrona do vovô, pois ele estava sempre sentado nela, ele riu e me fez carinho e me deu outra dica, não são todos que tem poltronas e que dormem nela, então a resposta me veio a mente: a cama.
Corri para o segundo andar e fui direto para o quarto do vovô, comecei a olhar debaixo das cobertas, debaixo da cama, mas não achei nada. Me deitei e fiquei olhando para o teto, olhei para o lado, na mesa ao lado da cama havia um copo onde ficava os dentes do vovô então me lembrei de algo, fada dos dentes. Vovô costumava me falar sobre a fada dos dentes, uma fada que troca dentes por moedas, mas você tem que pôr o dente debaixo do travesseiro, resolvi olhar debaixo do travesseiro dele e achei um bilhete.

“Parabéns coelhinha, você achou a resposta da primeira charada, agora responda a segunda:
O que é que se faz para comer, mas não se come?
Boa sorte.”

É feito para comer, mas não comemos? Deve ser algo que fica na cozinha, mas o poderia ser? Me levantei da cama e corri para a cozinha, meus pais estavam sentados na mesa, conversando com a vovó. Eles me olharam quando entrei na cozinha, mostrei o bilhete para eles e todos começaram a apensar comigo, vovó estava rindo, acho que ela sabia a respostas, mas não iria me contar.
Papai desistiu de pensar na resposta e foi pegar um pedaço torta de limão que a vovó tinha feito, ele começou a comer com as mãos e a mamãe deu uma bronca nele falando para ele usar uma colher, foi então que a resposta veio a minha mente, talheres. Nós fazemos os talheres que são usados para comer, mas não os comemos, tão óbvio, vovô era um gênio. Corri para a gaveta de talheres e a abri, encontrei então outro bilhete.

“Essa minha coelhinha está muito esperta hoje, achou a segunda resposta. Vejamos como você se sai com a terceira charada:
O que é que sobe e desce, mas não sai do lugar?
Boa sorte.”

Sobe e desce, mas não sai do lugar? O que poderia ser? Um animal? Mas não tem como um animal subir e descer e não sair do lugar, será que é algo que nos ajuda a subir ou descer? Se for isso, faz sentido pois esse algo não sairia do lugar... uma escada!
Corri para o corredor onde tinha a escada que levava para o segundo andar, olhei ela de cima a baixo e em todos os lugares, inclusive no armarinho que ficava abaixo dela, mas não encontrei nada então fui perguntar a vovó se eles tinham outra escada, ela pensou um pouco e então disse que havia uma velha escada no celeiro, agradecia e ela e corri para lá.
O celeiro ficava ao lado da casa, uma casa com telhado arredondado e uma porta dupla bem grande era a única entrada. Dentro do celeiro, havia feno e palha para tudo que era lado e bem no fundo, encostada de forma que alguém havia subido para o segundo andar do celeiro, havia uma escada de madeira. Fui até ela e olhei em volta, não havia nada então resolvi subir para ver se encontrava algo no andar de cima.
O segundo andar estava tão bagunçado quanto o andar de baixo, cheio de feno e palha para tudo que era canto, mas dessa vez eles estavam compactados em retângulos. Perto da janela que ficava a cima da porta dupla do andar a baixo, havia uma mesinha com algumas gavetas e um abajur em cima dela, fui até a mesa e abri as gavetas, dentro de uma delas havia outro bilhete.

“Liza, minha mais preciosa neta, estou muito orgulhoso de você por ter chego até aqui, sei que estava se divertindo, mas essa é a última charada, espero que tenha gostado dessa caça ao tesouro.
O que é que tem braços e pernas, mas não tem cabeça?
Boa sorte.”

Braços e pernas, mas sem cabeça? Isso parece uma criatura mística da mitologia grega. Olhei em volta, mas nada, resolvi então ficar olhando pela janela. A vista pela janela era linda, dava para ver toda a plantação da fazenda do vovô e, caso estivesse escurecendo, dava para ver o pôr do sol também, outra vista espetacular. Ah, como sinto saudades daquela casa.
Fiquei sentada olhando pela janela o resto da tarde, até o sol se pôr, não pensei em nada, apenas fiquei olhando para aquela paisagem linda. Mamãe gritou meu nome de dentro da casa, o que me tirou dos devaneios, então desci e fui para dentro da casa, já era hora de jantar.
Nos sentamos na mesa da cozinha e jantamos todos juntos, o vovô ainda não estava presente, o que me deixou preocupada, nunca tínhamos passado esse dia sem ele presente. Olhei para a sala de estar, e meus olhos encontraram a poltrona do vovô, pensei nele e como eu sentia saudades dele quando a charada me veio à mente e tudo fez sentido, tem braços e pernas, mas não tem cabeça, a poltrona do vovô!
Me levantei no meio da refeição e corri até a poltrona dele, tirei a almofada e encontrei o ultimo bilhete.
“Minha querida netinha Liza,
Provavelmente eu não estarei contigo quando você estiver lendo essa cartinha então vou logo me desculpando, sinto muito por não termos passado esse dia juntos, eu sei que você deve estar chateada com isso, mas não pude evitar, coisa do destino.
Então lhe peço que seja forte, viva sua vida intensamente, faça novos amigos, mantenha os velhos amigos pertos, seja feliz, obedeça seus pais, respeito acima de tudo, seja uma pessoa esforçada, tão dedicada quanto a netinha que eu para sempre vou lembrar.
Eu fui muito feliz em poder te ver crescer durante esses últimos dez anos, tão feliz que meu único arrependimento é não poder continuar a ver você crescer, mas sempre estarei com você no seu coração e enquanto se lembrar de mim, continuarei a viver.
Espero que você me perdoe por me despedir assim, através de uma carta e não pessoalmente, mas eu realmente não tive muito tempo, só consegui preparar essa caça ao tesouro, a última, para você, espero que você tenha gostado pois eu me diverti muito imaginando você resolvendo cada uma das charadas.
Agora, sem mais delongas, sua recompensa. Peça a sua avó para lhe entregar a caixa que deixei com ela.
Eu te amei muito e sempre irei te amar.
Com amor e carinho, vovô.”

Comecei a chorar enquanto lia a carta, uma carta de despedida? Mas para onde o vovô tinha ido? Comecei a gritar, perguntando para onde o vovô tinha ido, mas meus pais, assim como a vovó, começaram a chorar também, eu não entendia nada do que estava acontecendo, mamãe veio até mim e me abraçou fortemente, tão forte quanto aquele abraço naquela manhã, então tudo se encaixo, meu sonho, a carta, a reação de meus pais e de minha vó, meu avô não havia saído de casa, mas nos deixado para sempre, não tinha ido embora para morar sozinho em algum lugar, mas sim para ir morar em um lugar onde todos nós iremos algum dia, meu vovô havia morrido a poucos dias atrás e essa foi a forma que ele encontrou de se despedir de mim, sua netinha querida. Realmente, como eu sinto falta do vovô, o vovô que tanto amei e que tanto me fez feliz.
Pedi para a vovó a caixa que o vovô comentou na carta, ela foi buscar no quarto e me entregou, a caixa era do tamanho de uma caixa de sapatos, todo pintado de azul, minha cor favorita, e dentro havia várias barrinhas de chocolate, todas das que eu mais gostava e embaixo de todo aquele chocolate, havia uma foto minha com o vovô, abraçados e sorrindo.


Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário