Espero que gostem da história.
Boa leitura!
CAÇA AO TESOURO
Olá, eu me
chamo Liza e tenho doze anos. Todo ano, na páscoa, eu viajava com meus pais
para a casa do vovô. Ele morava longe da cidade, mamãe fala que é porque ele
estava cansado da correria da cidade. O vovô é pai da minha mãe, e ela não tem
irmãs ou irmãos, assim como eu, e isso me deixa feliz porque não tinha que
dividir os chocolates do vovô com ninguém.
Ele, o vovô,
costuma esconder muitos chocolates na casa dele e ele fazia tipo uma caçada ao
tesouro, deixando pistas e pistas de onde o chocolate pode ou poderia estar e
eu saia a procura dele, era muito divertido brincar de caça ao tesouro com o
vovô.
Aquele ano
não podia ser diferente. Como de costume, mamãe me acordou cedo para irmos para
a casa do vovô, então me levantei bem rápido e me arrumei, afinal, tenho que
ficar bonita para ver o vovô. Mamãe me ajudou a escolher as roupas enquanto
papai arrumava as coisas no carro, tive que lembrar ele de colocar alguns jogos
para jogar no caminho até a casa do vovô porque demora muito para chegar lá.
Eu tive um
sonho estranho naquele dia, sonhei com o vovô, mas ele estava todo de branco e
sorria para mim, então ele acenou e foi embora. Contei o sonho para a mamãe e
ela apenas me abraçou, apesar de eu gostar muito do abraço da mamãe, esse
abraço foi estranho e ao mesmo tempo aconchegante então decidi não pensar mais
nisso.
Como eu
havia dito, a viagem até a casa do vovô era longa e cansativa, e também muito
chata, pedi para o papai para levar algum jogo, mas acabei dormindo. Não pude
evitar, não conseguia dormir no dia anterior e acordei cedo naquele dia e ficar
parada no carro por muito tempo me deu sono, mas pelo menos a viagem foi rápida
desse jeito.
Chegamos na
casa do vovô, ele morava no campo, do lado da casa havia um celeiro e em frente
a sua casa haviam diversas plantas, vovô tentou me ensinar sobre as plantas que
ele tem, mas nunca fui fã disso então não aprendi nada, pensando agora, acho
que eu devia ter aprendido algo com ele.
Sai do carro
apressada e fui direto para a casa ver o vovô, ele não estava na sala, sentado
na poltrona em que costuma estar sentado, vovó estava na cozinha, sentada
enquanto tomava chá, perguntei a ela onde o vovô estava e ela sorriu com
carinho para mim, quase como se dissesse que estava tudo bem, então sorri de
volta e fui procurar o vovô no andar de cima.
A casa do
vovô tinha dois andares, no primeiro andar, que era por onde entravamos, ficava
a sala e a cozinha e no segundo andar tinham dois quartos e um banheiro entre
os quartos. Procurei no quarto logo de frente com a escada, ele não estava lá,
procurei no armário, debaixo da cama e nada, fui para o banheiro e ele também
não estava lá, então fui para o outro quarto com a certeza que o encontraria,
mas me enganei, ele também não estava no outro quarto.
Desci e fui
até a cozinha, onde a vovó estava arrumando a mesa para almoçarmos, meus pais
já tinham entrado na casa e haviam levado as malas para dentro e estavam
ajudando ela, colocando os pratos e talheres na mesa, me sentei ao lado da
ponta, onde o vovô costumava se sentar, naquele dia o vovô não almoçou com a
gente.
Depois do
almoço, perguntei novamente para a vovó onde o vovô estava, ela pediu para eu
esperar um pouco e então se levantou e foi até o quarto no segundo andar, como
ela era bem velhinha, demorou um pouco até que voltasse, mas quando voltou,
trazia consigo uma carta.
A carta
dizia:
“Olá minha
pequena coelhinha,
Como você
está? Espero que esteja bem, pois esse ano a caça ao tesouro será diferente,
dessa vez não irei te acompanhar pois eu estarei escondido junto com o tesouro.
Preparada?
Então vamos começar:
1ª charada–
De dia tem quatro e de noite tem seis, o que eu sou?
Ache a
resposta da charada e você achará a próxima, boa sorte.
Com amor, vovô.”
Após ler a carta, olhei para a vovó, que sorria
gentilmente para mim, então olhei para meus pais e eles me incentivavam a
pensar, a descobrir a resposta para a charada. Lembrei que o vovô vivia dizendo
que a noite, uma certa mobília da casa ganhar um par de pernas a mais, na hora
eu falei da poltrona do vovô, pois ele estava sempre sentado nela, ele riu e me
fez carinho e me deu outra dica, não são todos que tem poltronas e que dormem
nela, então a resposta me veio a mente: a cama.
Corri para o segundo andar e fui direto para o
quarto do vovô, comecei a olhar debaixo das cobertas, debaixo da cama, mas não
achei nada. Me deitei e fiquei olhando para o teto, olhei para o lado, na mesa
ao lado da cama havia um copo onde ficava os dentes do vovô então me lembrei de
algo, fada dos dentes. Vovô costumava me falar sobre a fada dos dentes, uma
fada que troca dentes por moedas, mas você tem que pôr o dente debaixo do
travesseiro, resolvi olhar debaixo do travesseiro dele e achei um bilhete.
“Parabéns
coelhinha, você achou a resposta da primeira charada, agora responda a segunda:
O que é que
se faz para comer, mas não se come?
Boa sorte.”
É feito para comer, mas não comemos? Deve ser algo
que fica na cozinha, mas o poderia ser? Me levantei da cama e corri para a
cozinha, meus pais estavam sentados na mesa, conversando com a vovó. Eles me
olharam quando entrei na cozinha, mostrei o bilhete para eles e todos começaram
a apensar comigo, vovó estava rindo, acho que ela sabia a respostas, mas não
iria me contar.
Papai desistiu de pensar na resposta e foi pegar um
pedaço torta de limão que a vovó tinha feito, ele começou a comer com as mãos e
a mamãe deu uma bronca nele falando para ele usar uma colher, foi então que a
resposta veio a minha mente, talheres. Nós fazemos os talheres que são usados
para comer, mas não os comemos, tão óbvio, vovô era um gênio. Corri para a
gaveta de talheres e a abri, encontrei então outro bilhete.
“Essa minha
coelhinha está muito esperta hoje, achou a segunda resposta. Vejamos como você
se sai com a terceira charada:
O que é que
sobe e desce, mas não sai do lugar?
Boa sorte.”
Sobe e desce, mas não sai do lugar? O que poderia
ser? Um animal? Mas não tem como um animal subir e descer e não sair do lugar,
será que é algo que nos ajuda a subir ou descer? Se for isso, faz sentido pois
esse algo não sairia do lugar... uma escada!
Corri para o corredor onde tinha a escada que
levava para o segundo andar, olhei ela de cima a baixo e em todos os lugares,
inclusive no armarinho que ficava abaixo dela, mas não encontrei nada então fui
perguntar a vovó se eles tinham outra escada, ela pensou um pouco e então disse
que havia uma velha escada no celeiro, agradecia e ela e corri para lá.
O celeiro ficava ao lado da casa, uma casa com
telhado arredondado e uma porta dupla bem grande era a única entrada. Dentro do
celeiro, havia feno e palha para tudo que era lado e bem no fundo, encostada de
forma que alguém havia subido para o segundo andar do celeiro, havia uma escada
de madeira. Fui até ela e olhei em volta, não havia nada então resolvi subir
para ver se encontrava algo no andar de cima.
O segundo andar estava tão bagunçado quanto o andar
de baixo, cheio de feno e palha para tudo que era canto, mas dessa vez eles
estavam compactados em retângulos. Perto da janela que ficava a cima da porta
dupla do andar a baixo, havia uma mesinha com algumas gavetas e um abajur em
cima dela, fui até a mesa e abri as gavetas, dentro de uma delas havia outro bilhete.
“Liza, minha
mais preciosa neta, estou muito orgulhoso de você por ter chego até aqui, sei
que estava se divertindo, mas essa é a última charada, espero que tenha gostado
dessa caça ao tesouro.
O que é que
tem braços e pernas, mas não tem cabeça?
Boa sorte.”
Braços e pernas, mas sem cabeça? Isso parece uma
criatura mística da mitologia grega. Olhei em volta, mas nada, resolvi então
ficar olhando pela janela. A vista pela janela era linda, dava para ver toda a
plantação da fazenda do vovô e, caso estivesse escurecendo, dava para ver o pôr
do sol também, outra vista espetacular. Ah, como sinto saudades daquela casa.
Fiquei sentada olhando pela janela o resto da
tarde, até o sol se pôr, não pensei em nada, apenas fiquei olhando para aquela
paisagem linda. Mamãe gritou meu nome de dentro da casa, o que me tirou dos
devaneios, então desci e fui para dentro da casa, já era hora de jantar.
Nos sentamos na mesa da cozinha e jantamos todos
juntos, o vovô ainda não estava presente, o que me deixou preocupada, nunca
tínhamos passado esse dia sem ele presente. Olhei para a sala de estar, e meus
olhos encontraram a poltrona do vovô, pensei nele e como eu sentia saudades
dele quando a charada me veio à mente e tudo fez sentido, tem braços e pernas,
mas não tem cabeça, a poltrona do vovô!
Me levantei no meio da refeição e corri até a
poltrona dele, tirei a almofada e encontrei o ultimo bilhete.
“Minha
querida netinha Liza,
Provavelmente
eu não estarei contigo quando você estiver lendo essa cartinha então vou logo me
desculpando, sinto muito por não termos passado esse dia juntos, eu sei que
você deve estar chateada com isso, mas não pude evitar, coisa do destino.
Então lhe
peço que seja forte, viva sua vida intensamente, faça novos amigos, mantenha os
velhos amigos pertos, seja feliz, obedeça seus pais, respeito acima de tudo,
seja uma pessoa esforçada, tão dedicada quanto a netinha que eu para sempre vou
lembrar.
Eu fui muito
feliz em poder te ver crescer durante esses últimos dez anos, tão feliz que meu
único arrependimento é não poder continuar a ver você crescer, mas sempre
estarei com você no seu coração e enquanto se lembrar de mim, continuarei a
viver.
Espero que
você me perdoe por me despedir assim, através de uma carta e não pessoalmente,
mas eu realmente não tive muito tempo, só consegui preparar essa caça ao
tesouro, a última, para você, espero que você tenha gostado pois eu me diverti
muito imaginando você resolvendo cada uma das charadas.
Agora, sem
mais delongas, sua recompensa. Peça a sua avó para lhe entregar a caixa que
deixei com ela.
Eu te amei
muito e sempre irei te amar.
Com amor e carinho, vovô.”
Comecei a chorar enquanto lia a carta, uma carta de
despedida? Mas para onde o vovô tinha ido? Comecei a gritar, perguntando para
onde o vovô tinha ido, mas meus pais, assim como a vovó, começaram a chorar
também, eu não entendia nada do que estava acontecendo, mamãe veio até mim e me
abraçou fortemente, tão forte quanto aquele abraço naquela manhã, então tudo se
encaixo, meu sonho, a carta, a reação de meus pais e de minha vó, meu avô não
havia saído de casa, mas nos deixado para sempre, não tinha ido embora para
morar sozinho em algum lugar, mas sim para ir morar em um lugar onde todos nós
iremos algum dia, meu vovô havia morrido a poucos dias atrás e essa foi a forma
que ele encontrou de se despedir de mim, sua netinha querida. Realmente, como
eu sinto falta do vovô, o vovô que tanto amei e que tanto me fez feliz.
Pedi para a vovó a caixa que o vovô comentou na
carta, ela foi buscar no quarto e me entregou, a caixa era do tamanho de uma
caixa de sapatos, todo pintado de azul, minha cor favorita, e dentro havia
várias barrinhas de chocolate, todas das que eu mais gostava e embaixo de todo
aquele chocolate, havia uma foto minha com o vovô, abraçados e sorrindo.
Fim.
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